Antes de se tornar oficialmente um estado em 1977, Mato Grosso do Sul viveu seis tentativas de separação. Revoltas, articulações políticas e divergências regionais marcaram esse processo que só se concretizou durante o regime militar. O jornalista e historiador Sérgio Cruz recorda que a primeira proposta para sua criação surgiu em 1870, quando um jornal do Rio de Janeiro sugeriu transferir a capital de Cuiabá para Corumbá. “Era uma discussão mais econômica do que política, motivada pelo isolamento da região sul”, explica.
Outras iniciativas surgiram em 1907, 1932 e 1934 — esta última liderada por Vespasiano Barbosa Martins, que reuniu dez mil assinaturas pedindo a criação do Estado de Maracaju. “Havia clima político e apoio popular, mas o projeto foi engavetado após um acordo entre lideranças”, conta Cruz. A ideia voltou em 1959, com o Movimento de Divisão liderado por Paulo Coelho Machado, símbolo de uma longa luta.
Durante o regime militar, a pauta só avançou quando o presidente Ernesto Geisel decidiu criar o novo Estado. “Foi uma decisão de cima para baixo, sem consulta popular e com pouca mobilização política”, lembra Cruz, deputado estadual à época. Quase cinco décadas depois, o Estado que nasceu dividido se uniu em torno do desenvolvimento. Formado sobre a base da pecuária e da soja, Mato Grosso do Sul consolidou uma economia sustentável e diversificada, que hoje inclui agroindústria, bioenergia e setor florestal. Segundo a consultoria Tendências, o Estado deve liderar o PIB nacional em 2025, com crescimento de 4,4%, à frente de Mato Grosso (3,7%).
O economista Hudson Garcia destaca que o programa Carbono Neutro, lançado em 2020, “coloca o Estado na vanguarda da economia verde, com ações em energia limpa, transporte e agropecuária sustentável”. O secretário Estadual de Meio Ambiente, Jaime Verruck, ressalta o planejamento de longo prazo: “Buscamos uma sustentabilidade certificada até 2030, integrando infraestrutura, meio ambiente e comunidades tradicionais.”
Com a economia fortalecida, Mato Grosso do Sul se transformou também em um estado de oportunidades. Segundo o professor de Geografia, Luiz Fernando Cenora, a expansão agrícola e industrial atraiu fluxos migratórios desde os anos 1970. “Os planos de colonização e incentivos à agricultura transformaram o Centro-Oeste em uma terra de oportunidades”, explica.
Atualmente, a nova onda migratória é marcada por atuação de profissionais qualificados atraídos pelos complexos de celulose e logística do Corredor Bioceânico. De acordo com o Censo 2022, 23% da população de MS é formada por pessoas nascidas em outros estados, principalmente São Paulo (33,5%) e Paraná (19,3%).
Para o mecânico Sidmar Freitas, que veio do Mato Grosso em 2010, a mudança foi definitiva. “Jamais imaginei morar aqui, mas foi amor à primeira vista. Me apaixonei pela Cidade Morena e pretendo ficar até o fim da vida.”