Aos 72 anos, o empresário Abílio Diniz tem uma rotina intensa. O dia começa impreterivelmente às 5h30 e vai até as 9h,10h da noite. Disciplinado, nem nos dias que dorme mais tarde – na quarta-feira passada, por exemplo, foi assistir Avatar-, Abílio se rende a esticar o sono. "Sou bom de cama", brinca. "Mas sigo os meus horários, gosto de rotina", diz em entrevista à repórter do Economia & Negócios Letícia Bragaglia. O empresário esbanja vigor. Dá plantão na sede do Pão de Açúcar, faz exercícios aeróbicos, meditação e reserva tempo para brincar com os filhos, Rafaela, de 3 anos, e Miguel, de apenas 2 meses. Na agenda de 2010, arrumou tempo para organizar um curso de liderança em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. "O curso vai ter um pouco da minha experiência acumulada nesses anos todos."
A experiência, no entanto, não inclui apenas a de empresário. Durante dez anos, Abílio foi um dos membros do Conselho Monetário Nacional, a convite de Mario Henrique Simonsen, na época então ministro do Planejamento. Abílio chama esse período de "a década perdida". "Não consegui trazer melhorias para o País", lembra. Daquela época, guarda apenas uma lição: "empresário não se mete em política". E segue à risca a "lição", quando perguntado sobre as eleições neste ano. "Dos candidatos declarados à Presidência, conheço muito bem todos e posso dizer que sou amigo deles. São todos competentes", resume. Já para falar de Lula, não economiza nos elogios. "Sou fã de carteirinha do presidente Lula, porque acompanhei a trajetória dele, quando ele andava lá no ABC", diz. "O que mais me impressiona é o crescimento dele", completa.
Abílio se diz realista em relação à economia brasileira. "Não sou otimista, mas vejo as pessoas melhorarem, ingressarem no mercado de consumo". Para ele, "o governo Lula não foi perfeito, mas já entrou para a história porque promoveu distribuição de renda e crescemos mais do que a média dos últimos anos". Em seguida, sobre a possibilidade ocupar um cargo no governo, Abílio faz questão de frisar que a maior contribuição que pode dar ao País é como empresário. Atualmente, o grupo Pão de Açúcar tem mais de 130 mil empregados, e Abílio diz que ainda tem muitos planos para o grupo. Por ora, elogia a recente aquisição das Casas Bahia, no começo de dezembro do ano passado. "Tudo está acontecendo de uma forma muita tranqüila. Nós elegemos o Rafael [neto do Samuel Klein] como CEO das Casas Bahia, que é um menino de 32 anos muito bem preparado, uma tremenda promessa como executivo", diz.
Para ele, o Pão de Açúcar deve começar cada vez mais a ser visto como um varejista, não como uma empresa de supermercados. "O Pão de Açúcar é um distribuidor não só varejista e nós vamos seguir com essa trajetória em alimentos, não-alimentos, postos e farmácia". Na vida pessoal, o sonho de Abílio é pode acompanhar os filhos até a idade adulta. "Quero que eles conheçam a vida como ela é, não numa redoma", diz. Na entrevista, feita em vídeo, Abílio comenta ainda as três fases pelas quais passou e elege as mais difíceis: o seqüestro em 1989, a briga de família por causa da sucessão no Pão de Açúcar e a quase falência do grupo na década de 90.