
Campo Grande perdeu 20 posições no ranking de saneamento básico elaborado pelo Instituto Trata Brasil em 2024. A avaliação foi feita com base em dados de 2023. O município caiu da 17ª para a 37ª colocação entre os municípios avaliados. De acordo com o coordenador de Relações Institucionais da entidade, André Machado, a queda está relacionada a uma piora em três indicadores-chave: abastecimento de água, tratamento de esgoto e perdas na distribuição.
Segundo Machado, o percentual de abastecimento de água caiu de 99,9% para 97,4%. Embora ainda acima da média nacional, essa nova taxa faz com que Campo Grande perca o status de universalização. Esse status exige ao menos 99%, resultando em menor pontuação no índice.
Outro ponto sensível foi o tratamento de esgoto, que passou de 66,1% para 61,3%. Apesar de considerada uma variação residual, o desempenho impacta negativamente a nota final do município.
Contudo, o fator mais crítico foi o aumento das perdas de água na distribuição. O índice saltou de 19,8% para 39,7%, ultrapassando com folga a meta nacional, que estabelece o limite de 25% para nota máxima. “Houve uma piora acentuada nesse indicador, o que pesou consideravelmente na avaliação”, explicou Machado.
Além dos dados objetivos, ele destacou um componente metodológico importante. Trata-se da incorporação, pela primeira vez, dos números do Censo 2022 à base de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Segundo ele, a atualização pode ter corrigido superestimativas na população atendida. Isso ocorreu especialmente no abastecimento de água.
Impacto da queda no ranking de saneamento
Ao ser questionado sobre o cenário nacional e o cumprimento da meta de universalização do saneamento até 2033, o coordenador afirmou que o Brasil precisa aumentar significativamente o volume de investimentos. “Hoje o país investe, em média, R$ 126 por habitante ao ano, mas deveria investir cerca de R$ 223, segundo o Plano Nacional de Saneamento Básico. Precisamos de mais recursos, públicos e privados, para acelerar a expansão e garantir qualidade de vida à população”, afirmou.
Machado finalizou reiterando que o Instituto Trata Brasil continuará monitorando os indicadores e contribuindo com informações técnicas para o avanço do saneamento no país.
Concessionária questiona metodologia
Em resposta ao relatório do Instituto Trata Brasil, a Águas Guariroba apontou que alterações na metodologia e na base de dados do estudo impactaram diretamente nos resultados, especialmente no índice de perdas de água. A concessionária também destacou que 100% da área urbana de Campo Grande é atendida com água tratada, e que os investimentos na capital superam a média nacional. Confira a nota na íntegra:
A Águas Guariroba explica que houve mudanças na metodologia, nas premissas e na base de dados utilizada pelo Instituto Trata Brasil impactaram significativamente nos resultados do ranking, principalmente no índice de perdas de água na distribuição.
Sobre a cobertura do abastecimento de água, a concessionária esclarece que 100% da área urbana do município tem acesso a água tratada. Porém, o estudo contempla a população residente na zona rural, que não está inclusa no contrato estabelecido entre a prefeitura e a concessionária.
Já com relação a cobertura de esgoto, a empresa pontua que o estudo leva em consideração o esgoto gerado a partir da quantidade de água distribuída. No entanto, nem toda água distribuída na cidade torna-se esgoto. Por exemplo, a água usada para lavagem de calçadas, que vai direto para a rede de drenagem, além de outra grande quantidade que é absorvida pelo solo. A concessionária reforça que 100% do esgoto coletado em Campo Grande é tratado.
Ainda sobre o relatório, ressalta-se que, de 2019 a 2023, a média de investimento das capitais do Brasil em saneamento foi de R$ 130,05 por habitante. Campo Grande investiu um volume 50% maior, R$ 195,31 por habitante, um total de R$ 877 milhões.