Abebida mais tradicional de Mato Grosso do Sul o tereré, um vírus e o câncer bucal são causas que podem acarretar consequências para a saúde. O que essas três coisas têm em comum? Segundo a ortodontista e também professora doutora Maria Fernanda Martins Ortiz Posso, que é mestre e especialista em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP/Bauru), o trio está ligado ao aumento de casos de câncer de boca em Três Lagoas.
Isso ocorre, principalmente, devido ao compartilhamento da bomba de tereré entre grupos de amigos. “O câncer bucal, hoje, tem como principal fator de risco o HPV. Tivemos um aumento de 225% nos cânceres gerados por HPV no Brasil. Vejo que muito se fala sobre o HPV e o câncer de colo de útero. Mas pouco se comenta sobre os 15 mil casos por ano de câncer bucal com a constatação de 80% do vírus HPV”, explica.
Os tipos de cânceres de boca mais comuns são os de orofaringe e língua.
MAIO VERMELHO
O mês é de campanha ao combate e a prevenção do câncer de boca. Segundo o Inca, o Brasil possui 15.190, casos de câncer bucal. Aproximadamente 11.180 são em homens e 4.010 são em mulheres. O total de óbitos é de 6.605 e 80% são de homens contra 20% em mulheres.
Cigarros eletrônicos e narguilés também são ameaças ao HPV
O compartilhamento da bomba do tereré pode transmitir o HPV (sigla em infglês para Papiloma Vírus Humano). Além do acessório usado na bebida, o vírus também pode ser transmitido por meio do uso compartilhado de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapers, e pelo narguilé, destaca a professora doutora Maria Fernanda Martins Ortiz Posso.
Relatório feito pela Covitel aponta que um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. O índice é de 10,1% entre os homens contra quase 5% das mulheres. A região que mais experimenta cigarros eletrônicos é a Centro-Oeste – com 11,2%.
A pesquisa também mostra que 17% dos jovens brasileiros, com a faixa etária entre 18 e 24 anos, usam o narguilé. “Infelizmente tem ganhado muito espaço no nosso Estado. Além do uso do tabaco sem fumaça que é bastante típico da nossa região”, complementa.
O compartilhamento de objetos pessoais pode carregar o vírus do HPV, que possui um papel importante no aparecimento do câncer na região de orofaringe, garganta, amígdalas e língua. Cerca de 70% dos pacientes com cânceres nessas regiões carregam o vírus do HPV.
‘É um problema que já fomos contemplados com a solução’
A professora doutora Maria Fernanda Martins Ortiz Posso também destaca a mudança do perfil dos pacientes acometidos pelo câncer bucal, que era majoritariamente composto por homens, etilista e tabagista. No entanto, os dados mais recentes mostram casos de câncer de orofaringe e língua em pessoas não vacinadas contra o HPV. “Estamos falando de um problema que já fomos contemplados com a solução. A vacina contra o HPV é distribuída gratuitamente em todo o país. Infelizmente poucas pessoas valorizam o imunizante. Muitos não sabem, mas tivemos um grande descarte dessas vacinas. Trata-se de um investimento de 20% do orçamento total em vacinas que é completamente desperdiçado”.
A especialista pontua que o HPV é responsável por 5% a 10% de todos os cânceres. “São pacientes jovens entre 18 e 35 anos já com lesões na orofaringe”.
INCIDÊNCIA
MS é o 2º Estado com mais incidência de câncer de boca no país. Em Três Lagoas, a cada 100 mil habitantes, 8,3 dos homens são acometidos. Os municípios de Aquidauana e Campo Grande também lideram as estatísticas estaduais.