
O Facebook decidiu instalar uma equipe de pesquisas permanente em Paris, no domínio da inteligência artificial. Seis pessoas acabam de ser recrutadas e outras seis deverão seguir até o final do ano. "Dentro de alguns anos seremos de 25 a 30 pessoas, além de doutorandos e pós-doutorandos", afirma Yann LeCun, diretor da unidade de pesquisa. Sua equipe conta hoje com 45 membros, divididos entre a sede do Facebook em Menlo Park (Califórnia) e Nova York, onde o pesquisador também leciona.
Além disso, também está sendo considerada uma mudança para Paris, para acompanhar o crescimento do grupo de pesquisa. Esse centro, batizado deFacebook Artificial Intelligence Research (FAIR), constitui o terceiro pilar da pesquisa e desenvolvimento futurista da empresa, junto com as interfaces naturais e a conectividade planetária.
As primeiras tratam da realidade virtual em torno do visor criado pela empresa Oculus VR, comprada pela gigante americana em 2014. Um primeiro modelo deverá sair no primeiro trimestre de 2016 para "facilitar as interações sociais virtuais", explica Mike Schroepfer, diretor técnico do Facebook. O segundo pilar visa conectar o maior número possível de pessoas à internet através de satélites ou de aviões solares. O próprio Yann LeCun foi recrutado pelo Facebook, no final de 2013, para desenvolver as técnicas de inteligência artificial da qual ele foi um dos pioneiros, o "deep learning" (ou "aprendizado estatístico profundo").
Redes de neurônios
Esses conceitos são aplicados em programas de reconhecimento de voz, de reconhecimento de imagens, de classificação de objetos diversos, e também de tradução automática e de previsão de efeitos de medicamentos…
Esses programas aprendem, através de bancos de dados conhecidos, a classificar objetos (sons, imagens, vídeos…) desconhecidos. Às vezes chamados de "redes de neurônios" por analogia com o funcionamento cerebral, eles adaptam suas centenas de milhões de parâmetros para produzir a melhor resposta possível.
Yann LeCun esteve entre aqueles que melhoraram a eficácia desses cálculos nos anos 1990 e permitiram sua utilização recente. Formado na França, no Esiee e na universidade Pierre e Marie Curie, ele em seguida trabalhou nos laboratórios de pesquisa da empresa americana AT&T.
Os assistentes digitais de voz instalados nos smartphones da Apple, Microsoft e Google (e seu sistema Android) são os exemplos mais surpreendentes da eficácia dessas técnicas. Na revista "Nature" de 27 de maio, Yann LeCun e dois outros pioneiros da área (Yoshua Bengio e Geoffrey Hinton) relembram os sucessos das técnicas e detalham os desafios que vêm pela frente. E Geoffrey Hinton trabalha para o Google, sinal do interesse das gigantes da internet por essas técnicas.
"A inteligência artificial deve permitir triar qualquer informação da qual um usuário disponha para melhorar as interações sociais", acredita Mike Schroepfer.
O mundo acadêmico tem dificuldades em competir com essas empresas nessa busca. Pesquisadores do CNRS, do Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e em Automática (Inria) ou de universidades estão entre os últimos recrutas das equipes do FAIR. Além disso, vários outros jovens pesquisadores também interessavam a estabelecimentos de pesquisa japoneses. O Facebook também foi buscar entre seus concorrentes Microsoft, Xerox e a japonesa NEC.
Yann LeCun acredita que a França (e sobretudo Paris) ofereça uma concentração rara de talentos e de culturas variadas, em matemática e em informática, ambas disciplinas soberanas do deep learning. "Não temos dificuldade em convencê-los. Eles trabalharão junto com os melhores, em projetos ambiciosos e terão os recursos técnicos necessários", ele ressalta, sem revelar salários. "Além disso, nós os incentivamos a colaborar com outras equipes e a publicar os resultados de suas pesquisas". Deverão ser fechadas parcerias com o Inria, entre outros.
Entre os desafios, o pesquisador aposta que a compreensão da linguagem natural será tecnicamente possível para um telefone ligado a servidores potentes daqui a dois ou três anos. Com exceção, talvez, de tiradas humorísticas.
Contudo, a instalação dessa equipe de pesquisa permanente na França não bastará para compensar a distância que a separa do Reino Unido e da Alemanha. Segundo a consultoria EY, 27 centros de pesquisa e desenvolvimento de grandes empresas estrangeiras se instalaram na França em 2014 (40 em 2013), contra 72 e 47 respectivamente, entre seus vizinhos.