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Denúncia

Prefeitura da capital não encaminhou pacientes que foram a óbito por Covid

Afirmação é do secretário de Saúde, Geraldo Resende, sobre encaminhamento de pacientes para outros estados brasileiros

CBN > Secretário de Saúde Geraldo Resende falou ao jornal CBN Campo Grande. - Gerson Wassouf/CBN
CBN > Secretário de Saúde Geraldo Resende falou ao jornal CBN Campo Grande. - Gerson Wassouf/CBN

A rádio CBN Campo Grande, que integra o Grupo RCN de Comunicação, repercutiu nesta semana assuntos ligados à gestão da Saúde durante a pandemia de Covid-19 em Campo Grande. Em entrevista aos jornalistas Danielly Escher e Edir Viegas, o secretário de Saúde do estado, Geraldo Resende, falou sobre o repasse de verbas feitos nos últimos dois anos para a Capital, a ausência de agradecimento por parte da gestão municipal e as dificuldades em realizar termos aditivos de repasses feitos pelo governo estadual para o desenvolvimento de programas de saúde. 

Segundo Resende, a capital deixou de encaminhar pacientes com Covid-19 para outros estados brasileiros quando Mato Grosso do Sul passava por falta de leitos de UTI. 
Em nota, a prefeitura disse que a cidade é referência no atendimento de pacientes com Covid-19 e que possuía estrutura para prestar atendimento aos pacientes internados em UPAs e CRSs. Confira a íntegra:

Qual o total de recursos públicos que chegou para o município para o combate à Covid? 

Geraldo: Só do estado de Mato Grosso do Sul nós aplicamos mais de R$ 60 milhões computados na parceria que fizemos com instalações de leitos de UTIs em hospitais filantrópicos e hospitais privados aqui na capital. Foram mais de R$ 60 milhões entre os anos de 2020 e 2021 e que, na maioria das vezes, não é divulgado pelo município de Campo Grande. Além, logicamente, de insumos que nós destinamos às unidades hospitalares de Campo Grande, como EPI (Equipamento de Proteção Individual), equipamentos para montagem dos leitos de UTI. E mais ainda se nós considerarmos que o principal hospital de referência ao enfrentamento da Covid foi o Hospital Regional e o município sequer encaminhou um real no custeio desse hospital, que gira em torno de R$ 30 milhões [por mês]. Se nós computarmos R$ 360 milhões em 2020 e maio, outros R$ 360 milhões em 2021, nós temos cifras enormes de recursos que o estado disponibiliza para atender a população de Campo Grande e dos municípios atendidos pela capital.

E olhando esses últimos dois anos, tudo que o foi feito, houve erros na aplicação desse dinheiro?  

Geraldo: Eu não tenho dados para dizer se houve erros. Gostaria que nós tivéssemos, pelo menos, a gratidão de Campo Grande por esse enorme recurso que nós destinamos. Em determinados momentos nós tivemos que recorrer a outros estados para o atendimento da população de Mato Grosso do Sul e vimos que o município poderia ter encaminhado pacientes da capital. E nos causou espanto ao verificarmos que quando o estado de Rondônia, o estado de São Paulo, a cidade de São Bernardo do Campo, nos ofertaram leitos, o município se negou a mandar esses pacientes e acredito que nós poderíamos ter salvo vidas preciosas. Há uma relação de 195 pacientes, entre 2020 e 2021, que faleceram, foram a óbito nas UPAS [Unidades de Pronto Atendimento], nos CRS [Centros Regionais de Saúde] na capital, sem ter acesso à lei. E este ano também tivemos alguns óbitos em algumas unidades de saúde de Campo Grande, tanto em UPAs, como em CRS. Poderiam ter acessado leitos no interior do estado quando criamos uma vasta rede de leitos de UTIs em vários municípios do estado.  Saímos de sete municípios com leitos para 17. Não tínhamos leitos de UTI em Paranaíba, Coxim, Naviraí, Amambai. Todas agora têm leitos de UTI e, seguramente, poderíamos ter encaminhado alguns pacientes da capital para esses municípios.

O senhor falou em 195 mortes. Esse número de vidas perdidas seria em consequência de falta de atendimento adequado?   

Geraldo: Eu acredito que esses pacientes poderiam ter tido acesso a leitos de UTI. Tanto no interior como fora do estado, houve uma logística enorme e nós tivemos a Força Aérea Brasileira, o próprio Ministério da Saúde, nos ajudando a encaminhar pacientes para Rondônia, mais precisamente Porto Velho, e para os municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo.

O prefeito alega que vai deixar um legado pós-Covid que são os leitos de UTI. O Governo do Estado investiu R$ 60 milhões. Nós temos ou não temos leitos UTI em Campo Grande? 

Geraldo: Nós fizemos o que foi possível para abrir leitos em todo o Mato Grosso do Sul e aqui na capital também. Abrimos em parceria com o município, inclusive em clínicas e hospitais privados. E não tivemos acesso a lei de UTIs, nós buscamos outras alternativas e uma delas foi de fazer com que essa colaboração de outros estados pudesse nos atender. E o município naquele momento não quis acessar esses leitos em outras unidades da federação. Não sei se já tinha alguma definição de processos de disputas eleitorais, onde isso poderia, logicamente, ser debatido. Mas eu acredito que a vida é mais importante do que qualquer processo eleitoral. Há dificuldades em relação aos leitos de UTI e nós temos trabalhado intensamente. Tanto é que estamos apontando para os próximos dias o que não aconteceu no passado. E eu não quero fazer julgamento nenhum ex-administradores porque tivemos médicos que foram prefeitos da capital e não foi só um. Tivemos vários outros médicos. Mas, eu entendo que faltou daqueles que aqui passaram, na história do município de Campo Grande, pelo menos a construção de hospitais ou de leitos hospitalares que pudessem ofertar o melhor acesso da nossa população a esses leitos. E eu estou propondo e até dia 30 acredito que vamos fazer o lançamento da construção de dois hospitais aqui na capital. O Hospital do Idoso, no São Julião, e o materno-infantil que nós queremos aproveitar o estacionamento da maternidade Cândido Mariano para abrigar esse hospital.

Toda eleição vem a pergunta sobre a construção do hospital municipal de Campo Grande. O que é mais barato, comprar serviço da rede privada e filantrópica ou o município ter a sua própria estrutura? 

Geraldo: Campo Grande é a única capital do país que não tem um hospital próprio, um hospital municipal. E, para tanto, eu e o governador Reinaldo Azambuja estamos formatando e vamos apresentar nos próximos dias a formulação desses dois hospitais que mencionei. E estamos pretendendo terminar o Hospital do Câncer até junho deste ano e colocar esse hospital à disposição da nossa gente, para que ele possa ser o hospital de referência no tratamento da oncologia em todo o Mato Grosso do Sul. 

Falando do Hospital do Câncer, me parece que o Governo do Estado liberou recursos que estariam sendo retidos pelo município?

Geraldo: Nós encaminhamos recursos para o custeio do hospital e houve dificuldade em fazermos os termos aditivos, como também estamos com dificuldade de fazer os termos aditivos para que a população de Campo Grande tenha acesso ao programa “Opera Mato Grosso do Sul” e “Examina Mato Grosso do Sul”. Sabemos que há uma fila de 12 mil pacientes de Campo Grande que precisam ter acesso a essas cirurgias. Mas eu acredito que não é o processo eleitoral, que já está se avizinhando, que vai impedir o atendimento dessas pessoas. Certamente seria cruel balizar o nosso enfrentamento às demandas de saúde tendo como foco possível disputa eleitoral.