Esta segunda-feira (21), feriado nacional , encerra o “feriadão, que uniu a sexta-feira Santa com o dia de Tiradentes. O dia 21 de abril é feriado desde 1890 – na época, por decreto do governo provisório de Deodoro da Fonseca.
O feriado lembra a morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, executado em 1792 por participar da Inconfidência Mineira. Considerado traidor à época, ele foi enforcado e esquartejado pela Coroa Portuguesa. Sua execução havia sido autorizada por D. Maria, avó de D. Pedro I e bisavó de D. Pedro II, imperadores do Brasil.
Hoje, Tiradentes é reconhecido como herói nacional e patrono cívico do Brasil, a data foi confirmada como feriado nacional em 1965, durante o governo de Castello Branco, quando foi sancionada a lei 4.897 .
O texto diz que a homenagem a ele pretende destacar que a condenação de Joaquim José da Silva Xavier não deve manchar a memória dele, que é “reconhecida e proclamada oficialmente pelos seus concidadãos, como o mais alto título de glorificação do nosso maior compatriota de todos os tempos”.
Mais do que um mártir, Tiradentes era um homem comum, cheio de contradições, paixões e ideias. Nascido em 1746, teve uma trajetória multifacetada: foi dentista — daí o apelido “Tiradentes” —, minerador, comerciante, militar (com o posto de alferes) e um leitor voraz. Ele viveu em pleno século XVIII, em uma colônia explorada por Portugal, onde a insatisfação com os altos impostos e a falta de autonomia política começava a gerar movimentos de revolta.
Foi nesse cenário que surgiu a Inconfidência Mineira, conspiração organizada por um grupo de intelectuais e militares que sonhava com a independência e a instalação da República.
“ No começo, Tiradentes se envolveu na trama pelo mesmo motivo da maioria de seus companheiros: insatisfação pessoal com a Coroa. Com o passar do tempo, já dentro do movimento, Joaquim adquiriu consciência política e compreendeu que a luta em que estava envolvia causas nobres, como a instalação da República e o fim da cruel dominação portuguesa”, escreveuLucas Figueiredo, biógrafo de Tiradentes
Embora tenha sido o primeiro movimento a reivindicar a independência do Brasil, a Inconfidência Mineira fracassou, pois os seus membros foram delatados à Coroa.
Os principais líderes foram para o exílio no exterior, exceto Tiradentes, que foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, depois de quase três anos preso.
Segundo pesquisadores da UFF (Universidade Federal Fluminense), Tiradentes assumiu toda a responsabilidade pela revolta, isentando de culpa os seus companheiros. O fato de ter sido o único a ser morto o tornou um herói nacional e um dos principais símbolos da república brasileira.
Um homem complexo
Muito além da imagem de herói, Tiradentes era também humano — com qualidades e falhas, como destacam os estudiosos.
“Tem gente que quer que Tiradentes seja um ‘santo’, mas ele foi um homem, com paixões, defeitos e qualidades”, descreve Luiz Villalta, professor do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo o pesquisador, que estuda o tema há 40 anos, Tiradentes era teimoso, corajoso, falava muito e tinha grande sede de conhecimento . Lia obras estrangeiras e nacionais, formulava suas próprias estratégias e circulava por diferentes grupos sociais.
“Era fanfarrão? Falava demais? Sim! Mas sua participação como tal era essencial para o sucesso do movimento. Ele era o agente que poderia incendiar o povo”, completou Villalta.
A vida amorosa de Tiradentes também chama atenção. Ele se relacionou com Antônia do Espírito Santo, 25 anos mais nova, com quem teve uma filha.
“Há registros de que, com ela, teve uma filha. Mas não é improvável que tenha deixado outros descendentes. Ele viajava demais. Era obcecado pela conspiração. Ao que tudo indica, a amante se cansou dele e o traiu”, relata Villalta.
Para o jornalista e biógrafo Lucas Figueiredo, “ele era alguém que queria muito vencer na vida, que acreditava que o esforço seria recompensado. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa muito teimosa e inocente. Às vezes, confuso; sempre generoso e com uma coragem infinita”.
Apesar dos ideais de liberdade defendidos pelo movimento, Villalta lembra que os inconfidentes não questionaram a escravidão.
“Não tinham a menor sensibilidade social”, aponta o historiador, que também destaca que um dos legados da Inconfidência é a persistência de falhas no sistema judiciário brasileiro: “as falhas permanentes de nosso poder judiciário, desde aquela época notabilizado por produzir injustiças”.
Foto- Alguns artistas brasileiros incorporaram o tema através de suas obras. Um dos trabalhos artísticos mais conhecidos sobre a morte de Tiradentes é o de Pedro Américo, criada em 1893. Inicialmente, a obra foi chamada de Tiradentes supliciado, mas o nome que a tornou popular foi Tiradentes esquartejado. A peça possui mais de 2,50 metros de altura e não foi feita por encomenda. A princípio, foi considerada chocante. Atualmente, está exposta em um museu da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais.”
Medalha da Inconfidência celebra legado
Em memória de Tiradentes, o governo de Minas gerais concede anualmente a Medalha da Inconfidência, maior honraria do estado. A tradicional cerimônia acontece nesta segunda-feira (21), em Ouro Preto, reunindo autoridades e homenageados de diversas áreas.
Neste ano de 2025, 171 pessoas serão condecoradas em quatro categorias: Grande Medalha (40), Medalha de Honra (58), Medalha da Inconfidência (72) e Grande Colar (1), concedido a chefes de Estado ou presidentes dos três Poderes.
O Grande Colar, honraria mais importante concedida na data, será entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Com G1/Minas Gerais, Brasil Escola
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