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ECONOMIA

Brasil tem 8,6 milhões de idosos no mercado de trabalho

Participação de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 69% em 12 anos, mas maioria ainda enfrenta informalidade e baixos salários

Participação de pessoas com 60 anos ou mais, no mercado de trabalho, cresceu 69% em 12 anos - Foto: Divulgação/FGV
Participação de pessoas com 60 anos ou mais, no mercado de trabalho, cresceu 69% em 12 anos - Foto: Divulgação/FGV

A presença de pessoas com 60 anos ou mais no mercado de trabalho brasileiro aumentou quase 69% em 12 anos, segundo levantamento divulgado nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE).

Entre o fim de 2012 e o fim de 2024, o total de idosos ocupados passou de 5 milhões para 8,6 milhões, acompanhando o crescimento populacional da faixa etária, que ultrapassou os 35 milhões.

A pesquisa, elaborada pela economista Janaína Feijó com base em microdados da PNAD Contínua, do IBGE, destaca que a chamada “geração prateada” está cada vez mais presente no mundo do trabalho e menos associada à ideia de inatividade.

“Essa transformação é reflexo do aumento da expectativa de vida, dos avanços na medicina e da maior valorização da autonomia e do bem-estar ao longo da vida”, aponta a pesquisadora.

Participação ativa, mas em condições precárias

Apesar do crescimento, a inserção no mercado de trabalho ainda ocorre, em muitos casos, por necessidade financeira. A maior parte dos idosos ocupados enfrenta informalidade e baixa remuneração.

Segundo o estudo, 53,8% das pessoas com 60 anos ou mais que estão trabalhando atuam sem carteira assinada — um índice bem acima da média geral da população brasileira, que é de 38,6%.

Entre os idosos com até o ensino fundamental completo, a taxa de informalidade chega a 68,5%. E mesmo entre os que estão empregados, os rendimentos variam bastante: quem trabalha no setor informal recebe, em média, R$ 2.210, valor que representa apenas 40% do que ganha um idoso em vaga formal, que chega a R$ 5.476.

A escolaridade, embora tenha melhorado nos últimos anos, ainda é uma barreira. Em 2012, mais de 70% dos trabalhadores 60+ tinham, no máximo, o ensino fundamental completo. Em 2024, esse percentual caiu para 54%, mas ainda é predominante.

Comércio e serviços lideram ocupações

Os setores que mais absorveram mão de obra idosa entre 2012 e 2024 foram o comércio e os serviços. O número de idosos atuando como vendedores subiu 26,7% no período.

Já nas ocupações ligadas a construção, mecânica e pequenos ofícios, o aumento foi de 21,2%.

Custo de vida também pressiona

O estudo também chama atenção para o impacto do envelhecimento no padrão de consumo e no custo de vida. Segundo o superintendente de Índices de Preços do FGV IBRE, André Braz, gastos dos idosos tendem a se concentrar em plano de saúde, medicamentos e alimentos frescos, o que os torna mais vulneráveis a certas variações de preço.

“Do período da pandemia para cá, por exemplo, identificamos uma inflação ligeiramente maior na cesta desse grupo em comparação ao agregado da economia”, afirma Braz.

Envelhecimento e futuro do trabalho

A pesquisadora Janaína Feijó alerta para a necessidade de políticas públicas que enfrentem os desafios impostos por uma força de trabalho que envelhece. Entre as propostas estão a criação de ambientes laborais mais acessíveis e livres de preconceito etário, além de programas de requalificação profissional voltados a esse público.

“Proporcionar um envelhecimento ativo e digno também gera efeitos positivos para a economia, ao atender a uma população que cresce e tem demandas específicas”, defende.