Apesar de pouco conhecida, o lipedema é uma condição que afeta milhões de mulheres no mundo e causa impacto significativo na saúde física e emocional. A doença é o foco da campanha Julho Roxo, mês de conscientização sobre o problema, que agora tem classificação oficial como patologia e diagnóstico específico (CID).
Durante o quadro Saúde é Massa, do programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande, a médica Thais Amstalden, pós-graduada em nutrologia, gastroenterologia funcional e medicina integrativa, destacou que o lipedema é uma doença crônica e progressiva, caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura, principalmente nos membros inferiores.
Ao contrário da obesidade, não responde bem a dietas, exercícios ou cirurgias bariátricas.
“É uma gordura diferente da obesidade, mais inflamatória e resistente. A mulher pode fazer dieta, tomar remédio, fazer academia e não emagrecer naquela região”, explica a médica.
Doença ainda é pouco diagnosticada
Thais alerta que, apesar de mais conhecida nos últimos anos, a condição segue subdiagnosticada. A maioria das pacientes, segundo ela, acredita estar apenas acima do peso, o que gera frustração e sofrimento emocional.
“São mulheres que fizeram dieta a vida inteira, se mataram na academia, e não entendem por que não têm resultado. Isso compromete a qualidade de vida, causa dor, inchaço e até transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade”, aponta.
Outro sinal importante é a desproporção corporal. A mulher com lipedema tende a ter o tronco mais magro e acúmulo de gordura persistente nas pernas ou braços, com sensibilidade aumentada e dor ao toque.
“É aquela mulher que nunca gostou das pernas ou dos joelhos, desde a adolescência. E que muitas vezes ouve que está exagerando ou reclamando demais”, diz a médica.
Tratamento requer equipe multidisciplinar
Embora o lipedema não tenha cura, o tratamento adequado pode aliviar os sintomas e impedir a progressão da doença. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores os resultados.
“É uma doença multifatorial. Temos que atuar na parte hormonal, genética, vascular e no estilo de vida. Por isso, o tratamento precisa de uma equipe: nutricionista, educador físico, cirurgião vascular, além de recursos como drenagem linfática, botas pneumáticas e cuidados com o intestino”, explica.
A inflamação intestinal, segundo ela, pode agravar o quadro. Como a doença é de base inflamatória, cuidar da saúde gastrointestinal também faz parte da abordagem.
Histórico familiar é fator de risco
A médica reforça a importância da atenção aos antecedentes familiares. Aproximadamente metade das mulheres diagnosticadas têm outras mulheres na família com sinais semelhantes.
“Se há uma mãe, tia ou avó com as mesmas características, é importante ficar atenta. A genética tem papel relevante no desenvolvimento da doença.”
Thais recomenda que mulheres que apresentem sintomas procurem avaliação médica especializada e não se deixem levar por julgamentos sociais.
“Essas pacientes são, muitas vezes, vistas como preguiçosas ou desleixadas, quando na verdade enfrentam uma doença real e debilitante. A informação é o primeiro passo para mudar essa realidade.”
Confira a entrevista na íntegra: