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ENTREVISTA

Dor nas pernas, inchaço e frustração: lipedema é mais comum do que se imagina

Doença afeta milhares de mulheres e é confundida com excesso de peso

Dor nas pernas, inchaço e frustração: lipedema é mais comum do que se imagina

Apesar de pouco conhecida, o lipedema é uma condição que afeta milhões de mulheres no mundo e causa impacto significativo na saúde física e emocional. A doença é o foco da campanha Julho Roxo, mês de conscientização sobre o problema, que agora tem classificação oficial como patologia e diagnóstico específico (CID).

Durante o quadro Saúde é Massa, do programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande, a médica Thais Amstalden, pós-graduada em nutrologia, gastroenterologia funcional e medicina integrativa, destacou que o lipedema é uma doença crônica e progressiva, caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura, principalmente nos membros inferiores.

Ao contrário da obesidade, não responde bem a dietas, exercícios ou cirurgias bariátricas.

“É uma gordura diferente da obesidade, mais inflamatória e resistente. A mulher pode fazer dieta, tomar remédio, fazer academia e não emagrecer naquela região”, explica a médica.

Thais Amstalden nos estúdios da Massa FM Campo Grande – Foto: Rodrigo Moreira/Portal RCN67

Doença ainda é pouco diagnosticada

Thais alerta que, apesar de mais conhecida nos últimos anos, a condição segue subdiagnosticada. A maioria das pacientes, segundo ela, acredita estar apenas acima do peso, o que gera frustração e sofrimento emocional.

“São mulheres que fizeram dieta a vida inteira, se mataram na academia, e não entendem por que não têm resultado. Isso compromete a qualidade de vida, causa dor, inchaço e até transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade”, aponta.

Outro sinal importante é a desproporção corporal. A mulher com lipedema tende a ter o tronco mais magro e acúmulo de gordura persistente nas pernas ou braços, com sensibilidade aumentada e dor ao toque.

“É aquela mulher que nunca gostou das pernas ou dos joelhos, desde a adolescência. E que muitas vezes ouve que está exagerando ou reclamando demais”, diz a médica.

Tratamento requer equipe multidisciplinar

Embora o lipedema não tenha cura, o tratamento adequado pode aliviar os sintomas e impedir a progressão da doença. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores os resultados.

“É uma doença multifatorial. Temos que atuar na parte hormonal, genética, vascular e no estilo de vida. Por isso, o tratamento precisa de uma equipe: nutricionista, educador físico, cirurgião vascular, além de recursos como drenagem linfática, botas pneumáticas e cuidados com o intestino”, explica.

A inflamação intestinal, segundo ela, pode agravar o quadro. Como a doença é de base inflamatória, cuidar da saúde gastrointestinal também faz parte da abordagem.

Histórico familiar é fator de risco

A médica reforça a importância da atenção aos antecedentes familiares. Aproximadamente metade das mulheres diagnosticadas têm outras mulheres na família com sinais semelhantes.

“Se há uma mãe, tia ou avó com as mesmas características, é importante ficar atenta. A genética tem papel relevante no desenvolvimento da doença.”

Thais recomenda que mulheres que apresentem sintomas procurem avaliação médica especializada e não se deixem levar por julgamentos sociais.

“Essas pacientes são, muitas vezes, vistas como preguiçosas ou desleixadas, quando na verdade enfrentam uma doença real e debilitante. A informação é o primeiro passo para mudar essa realidade.”

Confira a entrevista na íntegra: