Veículos de Comunicação

EMPREGO

Emprego qualificado é desafio para campo-grandense enquanto que imigrantes encontram oportunidades na Capital

Exigência por experiência representa barreira para efetiva transição de carreira

25% das novas vagas foram preenchidas por estrangeiros (Foto: Reprodução/ PMCG)
25% das novas vagas foram preenchidas por estrangeiros (Foto: Reprodução/ PMCG)

Segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de geração de empregos em Campo Grande em 2024 foi positivo, com mais admissões do que desligamentos. Apesar do avanço, os números não traduzem a realidade de quem busca espaço em áreas mais qualificadas, onde a exigência por experiência e formação ainda representa um desafio.

De acordo com o Caged, de janeiro a novembro do ano passado foram realizadas 9.016 admissões em Campo Grande. Mesmo com o saldo positivo no ano na geração de empregos, quem busca uma vaga mais qualificada muitas vezes enfrenta barreiras iniciais da profissão. Como é o caso da manicure, Regina Bernardo. A campo-grandense conta que, apesar de ter formação técnica em química, enfrenta dificuldades para conquistar uma vaga compatível com sua qualificação. 

“É sempre a questão da experiência na área. Tem vaga no mercado, se a empresa fizer o treinamento, tem mão de obra para preencher”, resumiu.

Para o especialista em carreira, Eberson Terra, o momento do mercado – com muitas vagas disponíveis – contribui para o maior nível de exigência no preenchimento da vaga.

“A gente precisa analisar os números que a gente tem hoje, então nunca a gente atingiu um patamar tão baixo de desemprego no país e aqui acaba não sendo diferente, né? Então tem muita gente empregada, isso faz com que as vagas que tem hoje disponíveis no mercado de trabalho, a exigência fica maior, e com isso também as pessoas têm maior dificuldade para acessar essas vagas se ela não tem algum tipo de experiência. A verdade é que a maioria das empresas, quando coloca algum tipo de vaga, dá preferência de fato para quem tem experiência anterior naquela função, porque quer que a pessoa entre jogando. Muitas vezes a empresa não tem nem tempo, nem condições de fazer um treinamento adequado e por isso acaba querendo pessoas que já entrem no primeiro dia, já produzindo e dando resultado como alguém que já estivesse lá por muito tempo”, detalhou.

Conforme Terra, a disponibilidade de vagas reforça o padrão de busca por oportunidades com maiores salários.

Mesmo pessoas que não tem o preparo necessário tentam ocupar essas vagas para ganhar mais e aí faz com que as vagas com trabalho de menor qualificação fiquem paradas […] Então a gente tem uma alta procura para poucas vagas de alta exigência e sobra de vagas naquelas de menor qualificação”, explicou.

Neste sentido, abre-se espaço para o público de fora, que vem em busca de uma vida digna. Do total de contratações na Capital, em 2024, 2.286 contratações foram de estrangeiros, cerca de 25% das admissões. Um exemplo disso é a venezuelana Angélica Brito. Há um mês em Campo Grande, ela já conseguiu uma vaga em um supermercado da cidade.

“Eu já trabalhava com o atendimento ao público na Venezuela […] agora eu trabalho em um supermercado fatiando queijo, presunto”, explicou Angélica.

Imigração e Mercado de Trabalho em Campo Grande

Ao longo de seus 126 anos, uma característica de Campo Grande sempre foi a presença de imigrantes em sua força de trabalho. Mais recentemente, a chegada de pessoas vindas de fora tem ajudado a suprir a demanda em setores estratégicos. 

Para o superintendente regional do trabalho em Mato Grosso do Sul, Alexandre Cantero, a presença dos estrangeiros não representa ameaça ao trabalhador local. Ele destaca que a demanda por mão de obra imediata é maior do que a oferta disponível no mercado.

“Eu não vejo nenhuma ameaça aos estrangeiros. Pelo contrário, vejo que hoje nós temos uma necessidade da presença deles para atender o desenvolvimento do setor produtivo. Hoje, se os venezuelanos, por exemplo, fossem embora do Estado, nós fecharíamos três fábricas aqui no Estado. Por quê? Porque eles estão ocupando vaga dos brasileiros ou dos sul-mato-grossenses ou dos campo-grandenses? Não, porque com o número de pessoas que nós temos aqui e com disponibilidade para trabalho, nós não conseguiríamos atender a necessidade de mão de obra do setor produtivo”, explicou. 

Segundo o superintendente muitos trabalhadores vindos de outros país chegam ao estado com qualificação profissional, no entanto, barreiras como a língua e a própria revalidação de títulos dificultam o preenchimento de postos de trabalho mais qualificados.

Segundo a coordenadora da Funtrab, Marina Dobashi, muitos desses trabalhadores acabam ocupando funções que não encontram interessados entre os brasileiros.

“Quando olhamos especificamente para Campo Grande, os dados do CAGED mostram em 2023, por exemplo, tivemos 1.854 estrangeiros admitidos na Capital, número que subiu para 2.288 em 2024. Mesmo com os desligamentos, o saldo continua positivo, o que revela a capacidade de absorção desse público no mercado formal. Em 2025, até junho, já registramos mais de 1.200 admissões de estrangeiros aqui na nossa capital, consolidando essa participação. Mas é importante destacar ainda que esses trabalhadores atuam principalmente em setores que demandam mão de obra mais intensiva, como construção civil, serviços domésticos e comércio”, destacou.

Bolivianos, haitianos e venezuelanos correspondem a 74% das contratações feitas no último ano, entre os estrangeiros.

Dados da Funtrab mostram que 40% deles atuam em serviços de alimentação e comércio, como cozinheiros, garçons e vendedores. Outros 25% estão na construção civil. Já áreas mais qualificadas, como tecnologia da informação e serviços especializados, concentram 15% dessa mão de obra. O restante se divide em saúde, transporte e serviços gerais.

Oportunidades na Hotelaria e Alimentação

Um setor que tem absorvido a mão de obra estrangeira é a hotelaria. O presidente do Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação de Mato Grosso do Sul, Juliano Wertheimer, explica que a presença desses profissionais está ligada a vários fatores.

“Na hotelaria eles são muito bem-vindos porque eles naturalmente são bilíngues. O segundo idioma nosso é o primeiro idioma deles, que é o espanhol. E eles vêm aprender o português dentro das nossas empresas e nos centros de convívio com auxílio, tanto da prefeitura como do Estado. Então, eles têm se demonstrado muito capazes, com vontade de aprender, com vontade de recomeçar a vida. Têm buscado postos de trabalho e têm tido sucesso. Porque são muitas vagas disponíveis e, claro, falamos de todo o nosso Estado, mas podemos destacar Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, bonito que é a região turística e, por que não, Corumbá”.