A eficiência reprodutiva dos rebanhos bovinos no Brasil pode estar sendo comprometida por um fator frequentemente ignorado pelos pecuaristas: a fertilidade do touro. A conclusão é de um estudo técnico elaborado por pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, que chama atenção para o papel dos machos na geração de perdas gestacionais e redução da produtividade.
De acordo com a publicação, falhas genéticas, alterações nos espermatozoides, baixa motilidade seminal e distúrbios hormonais estão entre as causas que limitam o desempenho dos reprodutores.
Essas disfunções, muitas vezes invisíveis ao manejo diário, podem resultar em prenhezes inviáveis, perdas embrionárias precoces e até falhas completas na fecundação.
Além das questões genéticas, fatores ambientais como nutrição inadequada, estresse térmico e manejo reprodutivo ineficiente também influenciam a qualidade do sêmen e o comportamento sexual dos touros.
Em um sistema extensivo, como o predominante em Mato Grosso do Sul, esses impactos podem passar despercebidos por longos períodos, acumulando prejuízos silenciosos.
Impacto direto na rentabilidade
O estudo destaca que a baixa eficiência reprodutiva tem reflexo direto nos indicadores econômicos da fazenda. Um dos exemplos é o intervalo entre partos: quanto maior o tempo sem prenhez, menor a taxa de desmame anual, comprometendo o objetivo de produzir um bezerro por vaca ao ano — meta considerada ideal na pecuária de corte.
Além disso, os autores alertam para a pouca atenção dada à avaliação andrológica dos touros. Embora essa prática seja capaz de identificar precocemente reprodutores com baixo desempenho, ainda é subutilizada, especialmente em propriedades com maior número de animais, onde a reprodução natural é a principal estratégia.
Riscos genéticos pouco monitorados
Outro ponto abordado na publicação é a influência de anomalias genéticas herdadas, muitas vezes não detectadas nos programas de melhoramento. Essas alterações podem afetar diretamente a viabilidade embrionária e contribuir para a mortalidade intrauterina, sem que o produtor consiga perceber a causa exata da falha reprodutiva.
A recomendação dos pesquisadores é que os criadores adotem um protocolo contínuo de avaliação dos touros, combinando exames clínicos, testes laboratoriais e acompanhamento do desempenho reprodutivo no campo.
O uso de tecnologias para monitoramento precoce de prenhez também é sugerido como forma de reduzir perdas silenciosas.
Diagnóstico e prevenção
A publicação reforça que o cuidado com a fertilidade dos reprodutores deve ir além da aparência física ou do desempenho passado. A análise técnica defende que os touros sejam tratados como peça-chave no sistema produtivo e que falhas nesse elo da cadeia reprodutiva sejam diagnosticadas com a mesma seriedade dedicada às matrizes.
A abordagem integrada entre genética, ambiente e manejo é apontada como o caminho mais eficaz para aumentar a taxa de prenhez e, consequentemente, a rentabilidade da pecuária.