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CAMPO GRANDE 126 ANOS

Imigração transforma Campo Grande em mosaico cultural

Crescimento de comunidades estrangeiras impulsiona projetos de acolhimento e fortalece a diversidade na capital sul-mato-grossense.

Campo Grande concentra o maior número de registros de imigrantes em MS - Foto: Reprodução/ Sead
Campo Grande concentra o maior número de registros de imigrantes em MS - Foto: Reprodução/ Sead

Campo Grande se transforma diariamente com a chegada de novas culturas, sotaques e tradições. Venezuelanos, haitianos, paraguaios, dominicanos e outros imigrantes têm feito da capital sul-mato-grossense um novo lar, trazendo consigo histórias marcadas por dificuldades, mas também pela esperança de recomeçar.

Segundo dados oficiais, entre janeiro e novembro de 2024, Mato Grosso do Sul recebeu 3.817 imigrantes. A maioria veio da Venezuela, seguida por paraguaios e bolivianos. Campo Grande concentra o maior número de registros, com 969 imigrantes, seguida por Dourados e Ponta Porã. Para o professor Renato Alves, a imigração faz parte da identidade do Estado. “A identidade cultural de Campo Grande e de Mato Grosso do Sul está muito ligada à imigração, que se desencadeou no início do século XX em razão das necessidades de mão de obra nos campos e nas cidades, devido à abolição da escravidão”, afirmou.

A realidade de quem chega, no entanto, nem sempre é simples. O haitiano Félix Matias chegou na Capital dias antes de ser decretada a pandemia e lembra as dificuldades do início. “Foi um momento muito difícil. Eu cheguei totalmente isolado, sem amigos, com dificuldades financeiras. Passei muitas dificuldades até conseguir me manter”, relatou.

Para oferecer suporte a essa população, foi criada a Sala do Imigrante, espaço voltado à orientação e ao acolhimento. O superintendente regional do Trabalho, Alexandre Cantero, explica que a iniciativa surgiu para combater a exploração de estrangeiros e atender à demanda por mão de obra. “Essa ideia surgiu da necessidade de combater a exploração de imigrantes internacionais aqui no Estado e também de auxiliar o setor produtivo, diante da necessidade de mão de obra que não é suprida só por brasileiros”, destacou.

Além de questões documentais, o acolhimento linguístico tem sido fundamental para a integração. “Estamos trabalhando com acolhimento linguístico também. Eles se sentem mais assessorados, orientados. Não há mais ninguém que um imigrante para saber o que outro imigrante está precisando”, afirmou Mirtha Carpo, da Associação dos Venezuelanos. A estudante Esther Gomez, é haitiana e vive em Campo Grande há um ano e quatro meses, confirma a importância desse apoio. “Aqui aprendi coisas práticas, como fazer o cartão do SUS. Isso é muito importante para quem chega sem saber nada”, contou.

A experiência de acolhimento também é lembrada pelos haitianos, que encontraram na capital um espaço de reconstrução. “A gente chegando aqui, o povo acolheu, o povo ajudou e hoje nós podemos dizer que temos uma nova vida. Mesmo com dificuldades, estamos fortalecendo a comunidade e a associação”, disse Junel Ilora, da Associação dos Haitianos.

Hoje, os venezuelanos já são a maior comunidade estrangeira em Mato Grosso do Sul, superando os paraguaios. Mais do que números, porém, a imigração em Campo Grande representa encontros, trocas culturais e a formação de um mosaico social em constante crescimento, que transforma a capital em um verdadeiro espaço de oportunidades.