Mato Grosso do Sul vive uma transformação silenciosa e profunda. Em um estado onde a pecuária e a soja sempre foram protagonistas do campo, a silvicultura avança como força complementar – e cada vez mais decisiva – na economia rural. Com mais de 1,8 milhão de hectares de florestas plantadas, o estado já ultrapassou São Paulo e ocupa hoje a segunda posição no ranking nacional do setor. E o impacto vai muito além dos números: ele muda paisagens, comunidades e destinos individuais.
Um exemplo simbólico dessa mudança vem de Ribas do Rio Pardo, município distante a 96,8 km de Campo Grande. É lá que vive Gleika Conceição Garcia. Nascida no município, ela voltou à terra natal aos 19 anos sem saber nada sobre o plantio de eucalipto. Hoje, atua como assistente de operações florestais na Suzano e está cursando técnico em silvicultura na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
“Quando entrei nesse ramo, comecei como ajudante, plantando, irrigando e adubando. Aos poucos fui conquistando espaço, virei assistente e agora estudo para ser técnica florestal. O curso gratuito está mudando a minha vida”, conta Gleika, emocionada ao relatar a trajetória que vem trilhando no setor.
Apenas no primeiro trimestre de 2025, o agronegócio sul-mato-grossense exportou US$ 2,4 bilhões. Os produtos florestais responderam por impressionantes US$ 923 milhões, com a celulose representando quase a totalidade dessas exportações. Para o presidente da Reflore/MS, Júnior Ramires, os efeitos da silvicultura vão além da economia: são também sociais e sustentáveis.
“A região era tradicionalmente marcada pela pecuária extensiva. Mas, com planejamento, o eucalipto se mostrou uma alternativa viável e eficiente. Hoje, o setor florestal talvez já seja o principal da economia estadual”, avalia Ramires. Segundo ele, a chegada da indústria florestal impulsiona o desenvolvimento humano, melhora o IDH e estimula o uso racional da terra. “A pecuária não foi substituída, mas aprimorada. As áreas foram otimizadas, e a produção de carne se tornou mais eficiente”, completa.
Com quatro fábricas de celulose em operação e outras duas em construção, Mato Grosso do Sul vive um verdadeiro boom florestal. E para dar conta da crescente demanda por mão de obra qualificada, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MS) atua em parceria com prefeituras, universidades, empresas e sindicatos. De acordo com o superintendente do Senar, Lucas Galvan, o esforço conjunto tem dado resultado.
“Temos desde cursos básicos até formações técnicas. Muitos alunos chegam desempregados e saem empregados. Mais de 60% relatam que a qualificação mudou suas vidas e melhorou a realidade de suas famílias”, afirma Galvan.
Outro caso que ilustra essa transformação é o de Nadine Luiza de Aquino. Nascida em Minas Gerais e formada em engenharia florestal, ela se mudou para o Mato Grosso do Sul em busca de novas oportunidades profissionais. Hoje, é supervisora de operações florestais na Eldorado Brasil, em Três Lagoas.
“Minha vida mudou completamente. Saí do meu estado, enfrentei desafios, mas foi aqui que descobri que a silvicultura é o caminho que quero seguir. É um setor dinâmico, cheio de oportunidades”, diz Nadine.
A silvicultura sul-mato-grossense se consolida, assim, como mais do que uma alternativa econômica: ela representa uma verdadeira revolução verde, que gera empregos, promove inclusão, preserva o solo e constrói um futuro sustentável para o estado e para quem vive nele.
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