Veículos de Comunicação

ENTREVISTA

“Não dá para ver um tsunami e não agir”, diz Nelsinho sobre crise com os EUA

Comissão tenta reverter sobretaxa a exportações brasileiras antes da vigência em 1º de agosto

Senador é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado - Foto: Reprodução/Agência Senado
Senador é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado - Foto: Reprodução/Agência Senado

O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Nelsinho Trad (PSD), está à frente de uma missão parlamentar que viaja aos Estados Unidos em busca de diálogo para evitar a aplicação de uma sobretaxa sobre produtos brasileiros.

A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, preocupa empresários do agronegócio e pode causar prejuízos significativos a diversos setores da economia.

A comissão temporária, composta por senadores de diferentes espectros políticos, foi criada com o objetivo de abrir um canal de comunicação com autoridades norte-americanas.

“Nossa missão não tem prerrogativa de negociar, mas tem o dever de dialogar”, afirmou Trad, durante entrevista exclusiva ao programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande. “Vamos buscar um meio termo para normalizar essa relação.”

Impactos imediatos na produção

Segundo o senador, a repercussão do chamado “tarifaço” já é sentida por empresários brasileiros. Trad citou o caso de exportadores de manga, que foram comunicados por compradores norte-americanos que apenas 30% da carga originalmente contratada será aceita.

O restante da produção — já embalada e com transporte contratado — não terá destino. Situação semelhante afeta os produtores de suco de laranja e café.

“O impacto será direto também para o consumidor americano, que verá aumento nos preços. É uma medida de perde-perde”, reforçou Trad, argumentando que os prejuízos não se limitam ao Brasil.

Resposta a Eduardo Bolsonaro: “pode ser abalo emocional”

Durante a entrevista, Trad foi questionado sobre uma crítica pública feita por Eduardo Bolsonaro, que afirmou que a comissão do Senado “daria com a cara na porta” nos Estados Unidos. O senador preferiu não alimentar a polêmica.

“Se eu estivesse no lugar dele, com o sofrimento que está passando — tendo saído do Brasil, se afastado do pai, da mãe e do mandato — eu também poderia estar com abalos emocionais. Então não vem ao caso ficar mandando resposta daqui com resposta dali”, afirmou.

Ele reforçou que o momento exige foco e responsabilidade: “A situação já está complexa o suficiente. Se a gente embaralhar mais, colocar mais pimenta nessa história, aí sim vai ficar praticamente impossível de resolver.”

Comissão suprapartidária segue trabalhando

Trad destaca que os senadores não pretendem interferir na competência do Executivo, mas sim facilitar o diálogo e demonstrar os prejuízos mútuos da medida.

Mesmo com a possibilidade da tarifa ser implementada já no próximo mês, os parlamentares acreditam que o diálogo seguirá aberto. Trad citou o exemplo do México, que reverteu medida semelhante com base em diplomacia.

“O que está ruim não pode piorar. Essa comissão vai continuar atuando até quando for necessário.”

Relação histórica entre os países

O senador lembrou que Brasil e Estados Unidos mantêm relações diplomáticas há mais de dois séculos. “Não são 206 dias, são 206 anos. Essa relação precisa ser respeitada.”

Ele também mencionou que os produtos brasileiros exportados têm qualidade e sanidade reconhecidas, e que três estados americanos — responsáveis por quase metade das importações brasileiras — também sofrerão economicamente com a sobretaxa. “Não é só ruim para o Brasil. Vai ser ruim para os dois lados”, concluiu.

Próximos passos

A comissão se reúne ainda esta semana com o governador Eduardo Riedel (PSDB), em Campo Grande, antes de seguir para os Estados Unidos. A expectativa é que os parlamentares consigam apresentar dados técnicos e argumentos que convençam as autoridades norte-americanas a reavaliar a medida.

“Não dá para ver um tsunami desse passar na nossa frente e não fazer nada”, afirmou Trad. “A missão é evitar que isso piore e encontrar, com equilíbrio, uma saída possível.”

Confira a entrevista na íntegra: