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ENTREVISTA

Novo protocolo da Polícia Civil busca prevenir adoecimento mental de policiais

Medida vale para todo o estado e inclui atendimento após incidentes críticos, como confrontos e cenas violentas

Medida vale para todo o estado e inclui atendimento após incidentes críticos, como confrontos e cenas violentas - Foto: Reprodução/Governo de MS
Medida vale para todo o estado e inclui atendimento após incidentes críticos, como confrontos e cenas violentas - Foto: Reprodução/Governo de MS

A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul instituiu um novo protocolo para acolhimento psicológico de servidores envolvidos em situações de alto impacto emocional, como confrontos armados, mortes de colegas, acidentes graves ou atendimento a tragédias.

A medida foi detalhada na manhã desta segunda-feira (19) pelo coordenador do Departamento de Gestão de Pessoas da corporação, delegado Fabiano Nagata, e pela psicóloga e investigadora Fabiana Pedraza, durante entrevista ao programa Microfone Aberto, da Massa FM Campo Grande.

O chamado “Protocolo de Intervenção em Incidentes Críticos”, prevê ações imediatas de escuta e apoio, além de acompanhamento contínuo dos policiais impactados por eventos potencialmente traumáticos.

A iniciativa é conduzida pela Coordenadoria de Atendimento Psicossocial e Espiritual (CAPE), estrutura que integra psicólogos, assistentes sociais e capelães.

“A saúde mental dos profissionais da segurança pública está constantemente sob risco. Eles lidam com violência, pressão, morte e sofrimento alheio todos os dias. Isso impacta diretamente o psicológico e, consequentemente, a vida pessoal e profissional de cada um deles”, explicou o delegado Nagata.

Fabiano Nagata e Fabiana Pedraza nos estúdios da Massa FM Campo Grande- Foto: Adriano Hany/Portal RCN67

Segundo ele, o protocolo foi criado para preencher uma lacuna antiga: a ausência de um atendimento padronizado e estruturado após episódios críticos. Com o documento em vigor desde o dia 9 de maio, toda a rede da Polícia Civil deve passar a acionar a equipe psicossocial em situações definidas como incidentes críticos.

A definição abrange desde cenas de violência extrema até ocorrências envolvendo vítimas conhecidas ou colegas de trabalho.

Sintomas ignorados e tabu entre policiais

Durante a entrevista, a psicóloga Fabiana Pedraza alertou que os primeiros sinais de sobrecarga emocional surgem ainda nos primeiros dias após o trauma. Ansiedade, insônia, pesadelos e alterações de humor estão entre os sintomas mais comuns.

“É o que chamamos de estresse agudo. O problema é quando isso não passa e se transforma em algo maior, como um transtorno de estresse pós-traumático”, explicou.

Fabiana também destacou a resistência de muitos policiais em admitir que precisam de ajuda. Segundo ela, há um tabu especialmente entre os homens, que evitam demonstrar fragilidade ou buscar apoio especializado.

“Temos feito um trabalho de formiguinha, indo às delegacias, conversando cara a cara com os servidores. O acolhimento precisa começar com a escuta e o respeito ao sofrimento psíquico do outro”, afirmou.

Interior também será contemplado

Questionado sobre a aplicação do protocolo fora da Capital, o delegado Nagata garantiu que o atendimento não será limitado a Campo Grande. O cronograma já começou pelas delegacias regionais do interior, com apoio dos chefes locais e das equipes psicossociais da CAP.

“A estrutura é estadual. Pode ser mais difícil pela distância, mas nosso compromisso é atender todos os policiais, estejam onde estiverem”, reforçou.

Além das visitas institucionais, a equipe também tem promovido cafés da manhã com servidores para estimular o diálogo e aproximar o serviço psicossocial da rotina das delegacias. A ideia é reduzir o estigma e mostrar que procurar ajuda não é sinal de fraqueza.

“Tá tudo bem não estar bem”

A entrevista foi encerrada com um apelo direto aos policiais civis: procurem ajuda. “Se perceber mudanças no sono, no apetite, no humor, na energia — preste atenção. São sinais de que algo está errado. E tudo bem não estar bem. Busque um psicólogo, um psiquiatra, converse com alguém. O importante é não sofrer em silêncio”, afirmou Fabiana.

Já o delegado Nagata destacou que espera que o modelo adotado pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul inspire outras corporações. “A saúde mental precisa ser uma prioridade em todas as instituições públicas”, concluiu.

Confira a entrevista na íntegra: