
A safra de soja em Mato Grosso do Sul avança em ritmo acelerado e já se aproxima do fim do plantio, mas o clima recente e o comportamento da comercialização deixam o setor em estado de atenção. De acordo com levantamento de entidade representativa dos produtores, 97,5% da área prevista para o cultivo já foi semeada no estado, o que sinaliza uma largada rápida para a temporada.
Os números mostram que as lavouras de soja ocupam cerca de 4,7 milhões de hectares em Mato Grosso do Sul. A região central e o sul do estado já ultrapassam 98% da área plantada, consolidando quase a totalidade da semeadura. A produtividade média estimada é de 52,8 sacas por hectare, o que projeta uma colheita em torno de 15,1 milhões de toneladas. Em comparação com o ciclo anterior, a área destinada ao grão cresceu 6%, reforçando o papel da cultura na economia estadual.
O avanço foi particularmente rápido nas últimas semanas. Em apenas cinco semanas, 81% da área já estava semeada, resultado de uma janela de plantio bem aproveitada pelos produtores. No entanto, a sequência de dias com pouca chuva ligou o alerta nas propriedades. Houve um período de estiagem nas últimas semanas, parcialmente aliviado por uma chuva de cerca de 20 milímetros registrada em seguida. Embora ainda não haja registro de problema grave, a preocupação permanece justamente porque dezembro é considerado um mês estratégico para o desenvolvimento das plantas.
A avaliação no campo é de que a situação ainda não é crítica, mas exige monitoramento constante. A combinação entre altas temperaturas e irregularidade de chuvas pode comprometer parte do potencial produtivo se se prolongar. Por isso, o radar dos produtores está voltado tanto para as previsões meteorológicas quanto para o comportamento da umidade do solo nas diferentes regiões.
Outro ponto que chama atenção é o ritmo de comercialização. Até o momento, apenas 21% da safra de soja está vendida em Mato Grosso do Sul. O percentual é considerado tímido quando comparado ao padrão histórico para esta época do ano. Em situações normais, analistas avaliam que é desejável ter algo próximo de 30% da produção antecipadamente negociada, como forma de cobrir custos e reduzir o risco de exposição na chamada “boca de colheita”.
As razões para a venda antecipada menor são variadas. Produtores adotam estratégias distintas, alguns preferindo aguardar uma reação dos preços antes de ampliar os volumes negociados. Além disso, o cenário internacional ainda passa por incertezas, o que interfere diretamente na formação de preços internos. Essa postura mais cautelosa não se limita a Mato Grosso do Sul e aparece em outras regiões produtoras do país.
No mercado externo, a referência da Bolsa de Chicago continua influenciando as decisões. Houve pregão na madrugada com alta nas cotações, em meio à expectativa pelo relatório semanal de vendas e exportações, tradicionalmente divulgado às quintas-feiras. Os operadores acompanham rumores sobre novas compras da China, ao mesmo tempo em que monitoram as condições de clima na América do Sul, em especial nas áreas de produção do Brasil.
Enquanto isso, um relatório mais amplo de oferta e demanda ainda será apresentado apenas na semana seguinte, o que mantém parte das apostas em aberto. Nesse intervalo, o comportamento do tempo nos estados produtores e as informações sobre embarques permanecem como principais guias para a formação de preços.
Diante desse quadro, o produtor sul-mato-grossense se vê diante de um cenário que mistura boas perspectivas de produção com a necessidade de cautela. A área maior e a safra bem encaminhada abrem espaço para novo volume expressivo de grão, mas a instabilidade do clima e a lentidão nas vendas antecipadas podem aumentar a exposição a riscos de mercado. Assim, a combinação entre gestão de custos, acompanhamento atento do clima e análise das oportunidades de travamento de preços será decisiva para o resultado da temporada.