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DIREITOS HUMANOS

Relatório dos EUA aponta censura, violência policial e aumento do antissemitismo no Brasil em 2024

Documento cita restrições à liberdade de expressão, mortes atribuídas a operações policiais e avanço de crimes de ódio como desafios para o país

Segundo o documento, houve ações consideradas desproporcionais por parte do STF- Foto:  Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Segundo o documento, houve ações consideradas desproporcionais por parte do STF- Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

O relatório de direitos humanos sobre o Brasil 2024, divulgado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, indica retrocessos em áreas como liberdade de expressão, segurança pública e combate a crimes de ódio.

O documento destaca decisões judiciais que restringiram o acesso a redes sociais e conteúdos online, casos de mortes atribuídas a operações policiais e um aumento significativo de registros de antissemitismo.

Segundo o levantamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) adotou medidas consideradas amplas e desproporcionais, como o bloqueio temporário da plataforma X (antigo Twitter) e a suspensão de mais de 100 perfis, atingindo de forma mais intensa apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e jornalistas.

Também houve multas previstas para quem utilizasse VPNs para acessar a rede durante o bloqueio, embora nenhuma tenha sido aplicada.

O relatório relata mortes em ações policiais, incluindo a operação na Baixada Santista, em São Paulo, e investigações sobre milícias na Polícia Militar de Roraima. Entre os casos citados está o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, com prisões e condenações de envolvidos.

Também há registros de tortura, como a morte de Vladimir Abreu de Oliveira, em Porto Alegre, após agressões atribuídas a policiais militares.

O documento aponta que centenas de pessoas detidas por participação nos atos de 8 de janeiro de 2023 permaneceram presas por meses sem acusação formal e, em alguns casos, sem acesso a defesa. A morosidade processual é destacada: um quarto da população carcerária aguarda julgamento.

No campo trabalhista, o texto registra que, embora a liberdade sindical e a negociação coletiva sejam respeitadas, há limitações, como a unicidade sindical, e falhas na fiscalização das condições de trabalho.

Cerca de 40% da força de trabalho está na informalidade, e trabalhadores de aplicativos permanecem sem proteção legal.

O relatório também menciona a reativação da comissão que investiga mortes e desaparecimentos políticos ocorridos entre 1961 e 1979, a persistência de casamentos antes dos 18 anos — prática mais comum entre meninas — e a atuação do Brasil na proteção de refugiados.

Em relação a crimes de ódio, o documento aponta 886 casos de antissemitismo registrados entre janeiro e maio, quase seis vezes mais que no mesmo período de 2023, impulsionados pelo conflito entre Israel e Hamas.

Também relata a prisão de quatro suspeitos ligados a grupos neonazistas durante a “Operação Overlord”, que investigou incitação à violência em vários estados.

A análise conclui que, apesar de o Brasil manter garantias legais para direitos fundamentais, persistem falhas na aplicação dessas normas, com impactos diretos na liberdade de imprensa, na proteção contra abusos e na segurança de grupos vulneráveis.