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ENTREVISTA

Retrato das terras brasileiras mostra avanço da agricultura e pastagens em transformação

Novo levantamento do MapBiomas revela intensificação do uso do solo, melhora no vigor das pastagens e expansão agrícola

(Foto: Reprodução/ Embrapa)
(Foto: Reprodução/ Embrapa)

O MapBiomas um novo levantamento que revela como o uso da terra no Brasil mudou entre 1985 e 2024. A rede de pesquisadores, universidades e organizações ambientais analisou, por meio de imagens de satélite e inteligência artificial, o comportamento das áreas agrícolas e de pastagem nas últimas quatro décadas — um período marcado por forte intensificação produtiva, mas também por desafios de degradação e pressão sobre biomas.

Segundo o estudo, as pastagens brasileiras ocupam hoje 155 milhões de hectares, dos quais cerca de 34 milhões (22%) apresentam baixo vigor, uma combinação de pouca produção de forragem e grande presença de solo exposto. Para a pesquisadora Ana Paula Matos, da equipe de pastagens do MapBiomas, esse indicador funciona como um alerta.

“A baixa produtividade mostra onde estão as áreas que precisam de recuperação e podem orientar o poder público nas decisões sobre uso do solo, afirma.

No recorte estadual, Mato Grosso do Sul aparece entre os seis estados com maior área de pastagem: são 12,2 milhões de hectares. De acordo com a pesquisadora, o tamanho dessa área torna a qualidade do manejo ainda mais decisiva. “O vigor da pastagem influencia a produção de biomassa e o funcionamento do sistema como um todo”, diz.

O levantamento também captou uma melhora gradual nas pastagens brasileiras: entre 2000 e 2024, houve um ganho líquido de 6,2 milhões de hectares em vigor. A equipe, no entanto, evita apontar uma única causa e explica que o indicador reflete tanto mudanças climáticas quanto práticas de manejo adotadas pelos produtores.

Agricultura acelera ciclos e amplia ocupação

No campo agrícola, os dados revelam um processo intenso de uso contínuo do solo. A agricultura temporária ocupa 23% do território nacional e aumentou o número de ciclos de cultivo em 31,4 milhões de hectares em 2024. Isso inclui tanto o plantio de grãos quanto culturas de cobertura.

Expansão da Soja e Impactos Regionais

Para a pesquisadora Kenia Santos, da equipe de agricultura, a sustentabilidade dessa intensificação depende diretamente do manejo. “Para saber se o solo se mantém saudável no longo prazo, é preciso avaliar práticas como plantio direto e conservação do solo. O aumento de ciclos é um primeiro passo para entender o uso, mas não explica sozinho a qualidade do manejo”, afirma.

A expansão da soja também aparece como um dos movimentos estruturais do uso da terra. A área de cultivo passou de 4,5 milhões de hectares em 1985 para 40,7 milhões em 2024. Segundo o MapBiomas, os impactos variam conforme a região. Em áreas da Mata Atlântica e do sul de Mato Grosso do Sul, a soja ocupou principalmente terras já convertidas anteriormente, como pastagens. Em regiões como o Matopiba, parte dessa expansão ocorreu diretamente sobre vegetação nativa.

“Os efeitos positivos ou negativos dependem da trajetória de cada bioma. Há lugares onde a conversão vem de áreas já antropizadas e outros onde substitui vegetação nativa”, explica Kenia.

O levantamento completo detalha a evolução do uso do solo em todos os biomas brasileiros e reforça como mudanças ambientais, pressões econômicas e decisões de manejo moldam o território do país.

Acompanhe a entrevista completa: