1572 dias passaram desde a morte do estudante Matheus Xavier. E agora está na mão de sete jurados (cinco homens e duas mulheres) se Jamil Name Filho, Vladenilson Omedo e Marcelo Rios são os mandantes do crime.
O último dia do júri popular da morte de Matheus Xavier começou sem Jamil Name Filho estar presente no plenário. Ele ficou conversando com os familiares, e se sentou no plenário cerca de 40 minutos após o começo dos debates.
Serão 9 horas de debate e cada parte terá duas horas e meia para falar. Após, a promotoria terá mais duas horas para a réplica e a defesa termina o debate com duas horas de fala para a tréplica. Após as falas das partes, os jurados responderão um questionário feito pelo juiz da Segunda Vara do Tribunal do Júri, Aluizio Pereira. A previsão é que a sentença ocorra por volta das 21h.
A acusação começou o debate, pela parte da manhã. O promotor Moisés Casarotto foi o primeiro falar. De início ele abraçou a mãe da vítima, Cristiane Coutinho, assistente de acusação, e entregou uma beca com o nome de Matheus para ela. Após, o promotor contou a dinâmica dos fatos para os jurados, mostrando depoimento de testemunhas e provas colhidas para a polícia. Moisés exaltou o trabalho do Ministério Público Estadual no caso aos jurados e disse que Name Filho tem influência nos três poderes, menos no MPE.
A defesa deve começar os debates logo após a pausa para o almoço, e deverá apelar ao emocional dos jurados. Ontem, Name Filho e Marcelo Rios choraram durante o plenário quando falaram sobre suas famílias.
ENTENDA O CASO:
Matheus Xavier foi assassinado na frente da sua casa no dia 9 de abril de 2019, com ao menos sete tiros do fuzil AK-47. A investigação policial acredita que o verdadeiro alvo da milícia era o pai de Matheus, o ex-capitão da Polícia Militar, Paulo Roberto Teixeira Xavier, que era desafeto da família Name por conta de negociações de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon.
Para cometer o crime, o grupo contratou Eurico Mota para rastrear a rotina do ex-militar. No entanto, Eurico “terceirizou” o serviço, contratando um hacker para a função. Por volta das 18 horas no dia do crime, Matheus pegou a caminhonete do pai para sair e foi fuzilado pelos pistoleiros da milicia, Juanil Miranda Lima e por José Moreira Freires, o “Zezinho” (Morto pela polícia civil do Rio Grande do Norte em 2020), o fuzil utilizado no crime nunca foi encontrado.
OPERAÇÃO OMERTÀ:
A Operação Omertà foi deflagrada cinco meses após o assassinato do estudante, pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por intermédio do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e visou desmantelar o grupo que planejava a maior matança em MS.
A família Name, dona de várias empresas em Mato Grosso do Sul, e envolvida até na política estadual, controlava o Jogo do Bicho na capital, com a “benção” do “Rei da Fronteira”, Fahd Jamil.
A aproximação dos chefes da família, Jamil Name e Fahd Jamil, se deu ainda mais após o desaparecimento do filho de Fahd Jamil, Daniel Alvarez Georges. Para vingar o desaparecimento do filho, os dois grupos se juntaram e execuções com o mesmo padrão começaram a acontecer no estado. A primeira foi do chefe de segurança da assembleia de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins Figueireido, em junho de 2018
Em outubro do mesmo ano duas pessoas foram executadas. O Playboy da Mansão” em um bar e, dias após, Orlando Silva Fernandes, ex-segurança do traficante paraguaio, Jorge Raffat, executado com 40 tiros.
Várias execuções, com o mesmo padrão e utilizando armas com grosso calibre, levantaram suspeitas pela polícia. Durante investigação policial, foi descoberto um arsenal de armas na casa do ex-guarda municipal, Marcelo Rios, e com isso o quebra-cabeça para desarticular a maior milícia do MS começou a ser montado. A investigação detalhou que o grupo funcionava em quatro núcleos, tendo a participação de policiais civis, delegado e guardas municipais, com os líderes da milícia sendo Jamil Name e Jamil Name Filho.
Mesmo com a apreensão do arsenal, a polícia não conseguiu encontrar as armas utilizadas nos crimes. Uma teoria é que após as execuções, a milícia transportava as armas para o grupo liderado pelo Fahd Jamil, no lado paraguaio da fronteira, dificultando a localização das armas dos crimes.
A sensação de impunidade do grupo era grande, que durante audiência online, Jamil Name chegou a oferecer R$ 600 milhões para ser transferido para Campo Grande.