Com o objetivo de conter a ferrugem asiática e garantir uma próxima safra mais produtiva, o vazio sanitário da soja está em vigor em Mato Grosso do Sul desde o último sábado (15) e segue até 15 de setembro. A medida proíbe a presença de plantas vivas de soja em todo o território estadual — incluindo propriedades rurais, margens de rodovias e áreas públicas — e busca romper o ciclo do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da doença.
Considerada uma das maiores ameaças à produção da oleaginosa, a ferrugem asiática pode provocar perdas severas nas lavouras, pelo seu alto potencial destrutivo. Constatada inicialmente em 2001 no país, a doença rapidamente se disseminou por praticamente todas as regiões produtoras de soja.
O fungo sobrevive em plantas remanescentes da última colheita, conhecidas como soja guaxa ou soja tiguera, e se espalha com facilidade entre lavouras, reduzindo drasticamente a produtividade.
“O vazio sanitário é um compromisso coletivo. Ele contribui diretamente para proteger a sojicultura sul-mato-grossense e viabilizar safras mais sustentáveis“, afirmou Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).
Ao eliminar a planta hospedeira durante o período sem cultivo, o número de esporos no ambiente diminui, o que gera três benefícios diretos: menor pressão de doenças sobre a próxima safra, redução de custos com defensivos e maior sustentabilidade no manejo agrícola.
Plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, o que impede a completa formação dos grãos, com consequente redução da produtividade. As perdas em grãos, ocasionadas pela ferrugem, vêm diminuindo nos últimos anos, mas ainda ocorrem.
A aplicação de fungicidas, cultivares de soja resistentes e o vazio sanitário são hoje as principais ferramentas de manejo da doença para reduzir perdas.
Dados
No Brasil, Mato Grosso do Sul é o terceiro em número de ocorrências de ferrugem asiática na safra de soja 2024/2025, com 12 notificações, de acordo com dados do Consórcio Antiferrugem – uma parceria público-privada no combate à doença no país. O estado do Paraná reúne o maior número de ocorrências (65), seguido por Rio Grande do Sul (25). O vizinho Mato Grosso teve duas notificações nesta última safra, nos municípios de Primavera do Leste e Campo Verde.
Em MS, as últimas notificações da ferrugem asiática ocorreram nos meses de janeiro e fevereiro deste ano. Os focos da doença foram registrados em Amambai, Bonito, Chapadão do Sul, Maracaju, Naviraí e Ponta Porã.
O que deve ser feito
Durante os 90 dias de vigência do vazio sanitário, os produtores rurais devem:
- Monitorar constantemente a propriedade para detectar e eliminar plantas voluntárias de soja;
- Erradicar qualquer planta viva, seja por meio de controle químico ou mecânico;
- Respeitar o calendário agrícola, evitando qualquer plantio fora do período permitido.
Quem descumprir as regras está sujeito a sanções legais, incluindo multas e outras penalidades previstas na legislação sanitária vigente. A Iagro reforça que intensificará as fiscalizações nesse período e orienta os agricultores a colaborarem com o cumprimento da norma.
Dúvidas ou denúncias sobre o descumprimento podem ser encaminhadas para o WhatsApp da Iagro: (67) 99971-8163.
Consórcio Antiferrugem
Como estratégia de transferência de tecnologia para a ferrugem-asiática da soja, foi criado em 2004 o Consórcio Antiferrugem.
Atualmente, o Consórcio conta com aproximadamente 100 laboratórios cadastrados em todo o Brasil, capacitados para identificar a ferrugem-asiática da soja. Além disso, fazem parte dele cerca de 60 pesquisadores de instituições públicas e privadas, distribuídos em todas as regiões brasileiras com o intuito de monitorar o problema e gerar informação atualizada sobre a doença.
Na internet, o Consórcio mantém atualizada a divulgação de dados de pesquisa, orientações técnicas e também monitora a doença em tempo real durante a safra de soja. A partir da detecção regional dos focos de ferrugem, a cada safra, e do compartilhamento digital dos dados, é gerado um mapa sobre a dispersão da doença no Brasil. (Mapa abaixo)
Paralelamente à criação do Consórcio foi formada uma rede de ensaios cooperativos para testes de fungicidas entre pesquisadores de todo o Brasil, responsável por gerar conhecimento para subsidiar as ações de pesquisa, de técnicos e de produtores no campo. A rede de ensaios cooperativos também compõe o Consórcio Antiferrugem.