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Inflação deve voltar a pressionar no 2º semestre

Juro de um dígito pode provocar novamente um aquecimento nos preços

Com a inflação em baixa, reduzem-se as preocupações com a demanda aquecida, e ficam mais fortes os argumentos para uma queda nos juros.

Contudo, na avaliação do banco espanhol BBVA, as pressões inflacionárias não desapareceram, e o juro de um dígito pode provocar novamente um aquecimento nos preços.

Desde o fim do ano passado, a inflação vem desacelerando no acumulado dos 12 meses, tendência que prosseguiu no início deste ano.

Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou alta de 6,22% ante o mesmo mês do ano passado – em dezembro, a taxa era de 6,5%.

Para o departamento de pesquisa econômica do BBVA, a tendência de baixa deve persistir por todo o primeiro trimestre, mas isso não significa o fim dos problemas.

"Essa tendência de baixa está mais relacionada a uma base alta do que a uma queda significativa das pressões da demanda: nos primeiros quatro meses de 2011 a inflação média foi de 0,8% ao mês, e para este ano prevemos uma média de 0,5% ao mês", diz relatório do banco, elaborado por Enestor dos Santos.

Para o BBVA, ao passar o "efeito-base", a inflação não terá mais margem para continuar em baixa. A projeção é de que a inflação a 12 meses atinja um mínimo de 5,2% em abril, voltando a acelerar, e fechando o ano a 5,4%.

"Não compartilhamos da opinião do Banco Central (BC), de que haverá uma convergência à meta quando termine o ano", diz.

A autoridade monetária afirma que neste ano a inflação vai convergir ao centro da meta, de 4,5%.

Além disso, o banco avalia que a decisão do BC, de buscar uma taxa de juros de um dígito, pode trazer de volta as pressões inflacionárias, e exigir a adoção de novas medidas macroprudenciais.

Após quatro cortes consecutivos de 0,5 ponto nos juros, que levou a taxa básica a 10,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) declarou que acha provável que os juros atinjam a marca de um dígito em 2012.

Isso levou as instituições financeiras a prever que a Selic vá continuar caindo até 9,5%, ficando em seguida estável pelo resto de 2012.

A projeção do BBVA não escapa desse consenso, mas o banco estima que, em 9,5%, a taxa de juros real (descontada a inflação) ficará ao redor de 4% – um mínimo histórico para o país.

O banco avalia que a taxa de juros real neutra – patamar em que os juros não causam pressões na inflação – esteja entre 5% e 6%.

Que uma Selic de 9,5% é um patamar baixo demais para o Brasil não chega a ser uma visão polêmica. A maioria dos analistas projeta que, a partir de 2013, o BC terá que subir os juros, levando a taxa aos 10,5% em 2013 – sinal de que o mercado aposta em uma volta do aquecimento nos preços.

Essa não é, contudo, a visão do BBVA. Para o analista, o BC vai manter a selic em 9,5% também durante o próximo ano, controlando a inflação com o uso de medidas macroprudenciais.

Para o banco, a inflação deve terminar 2013 em 5,6% (o mercado espera 5%). Essa taxa não significa uma inflação galopante, mas o BBVA avalia que uma taxa acima de 4,5% já está se tornando a regra, e não a exceção no sistema de metas de inflação brasileiro.

"Em nossa opinião, o país se beneficiaria de uma reabertura do debate sobre medidas para baixar a inflação, como a revisão de alguns mecanismos de indexação ou a fixação de metas de inflação mais baixas", diz o relatório.