Enquanto o plantio de trigo começa a ganhar ritmo no Brasil, fontes do setor avaliam que a nova safra poderá até superar a colheita anterior, acreditando em uma recuperação da produtividade após uma temporada bastante prejudicada pelo clima.
"A área plantada até pode cair um pouco. Mas se o clima for normal, teremos uma produção no mesmo patamar ou até maior que na safra passada, que foi extremamente prejudicada", afirmou Paulo Magno Rabelo, técnico de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
A Conab deve anunciar a sua primeira estimativa para a nova safra do cereal na pesquisa de grãos a ser divulgada no início de maio.
Em 2009, o Brasil colheu 5 milhões de toneladas, com grandes lotes de um cereal de baixa qualidade, em função das chuvas na colheita.
Neste ano, os brasileiros produziriam algo entre 5 e 6 milhões de toneladas, disse o técnico da Conab, apostando em condições climáticas que incluem o enfraquecimento do El Niño (causador de chuvas em excesso que afetaram a safra passada).
No ano passado, a produtividade média da lavoura brasileira caiu cerca de 15 por cento, para uma média de 2 toneladas por hectare, também por conta de um ataque intenso de fungos nas principais regiões produtoras, em meio à elevada umidade.
No Paraná, o principal Estado produtor brasileiro, onde os agricultores já iniciaram a semeadura, a expectativa é de que a área semeada não caia tanto quanto se esperava inicialmente.
"Acho que o plantio pode ser um pouco maior do que estávamos prevendo, de repente pode ser uma queda de 5 por cento (na área), afirmou o agrônomo Otmar Hubner, da Secretaria de Agricultura do Paraná.
Na pesquisa do mês passado, levantamento da secretaria apontou uma redução de 12 por cento na área plantada em relação a 2009. Mas a pesquisa foi feita quando ainda era incerto se o governo federal mudaria já para essa safra padrões de classificação do trigo que são levados em conta nas políticas de apoio a preços.
Esses novos critérios, mais exigentes, poderiam limitar o plantio.
Entretanto, os novos padrões de classificação do trigo ficaram para 2011, informou o técnico da Conab, destacando que a mudança nas normas visa levar o produtor a plantar um cereal que atende as necessidades da indústria.
Agora, acrescentou Hubner, o limitante para o plantio no Estado é a disponibilidade de sementes, após uma colheita "chuvada" que também reduziu a oferta de grãos com potencial de germinação.
O Paraná, que responde por pelo menos metade do trigo no Brasil, deve atualizar sua pesquisa mensal na próxima semana.
TRIGO GAÚCHO
No Rio Grande do Sul, que junto com o Paraná produz quase 90 por cento do trigo do Brasil, a expectativa do mercado é de pelo menos uma estabilidade na área.
"Acredito que vai se manter ou vai aumentar. Não tem mais sementes disponíveis", disse o corretor da Agromercado Marcelo de Baco, lembrando que o produtor comprou o quanto pôde de sementes.
Ele ressaltou que os preços domésticos do trigo, que receberam forte sustentação dos programas governamentais em 2009 apoio este que deve se manter em 2010, são fator de estímulo para os produtores.
"O preço mínimo (do trigo) está em 31,80 reais por saca. E o produtor recebe em alguns casos 33 reais pela soja", observou o corretor, comentando que a relação da cotação entre o principal produto agrícola do Brasil e o cereal nunca esteve tão estreita.
"No trigo, a manutenção do preço é artificial", ressaltou Baco. No caso da soja, não houve na safra passada políticas públicas de apoio ao preço.
Por meio das políticas de apoio ao trigo, que incluem programas de subvenção ao escoamento, o Brasil (um país importador) deverá exportar cerca de 1 milhão de toneladas até o fechamento da safra 2009/10 (agosto/julho), previu Rabelo, da Conab.
Somente no primeiro trimestre de 2010, o Brasil exportou 748 mil toneladas de trigo, contra 232 mil no mesmo período de 2009, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
Tais exportações, especialmente do produto com qualidade inferior, destinado à indústria de ração, tem ajudado o país a se desfazer de estoques em um momento de cotações frágeis no mercado mundial, que está bem abastecido.