
O Hospital Indígena Porta da Esperança, mantido pela Missão Evangélica Caiuá em Dourados, corre risco de encerrar suas atividades em outubro devido a uma dívida acumulada de cerca de R$ 4 milhões. A instituição, reconhecida nacionalmente pelo atendimento humanizado a povos Guarani, Kaiowá e Terena, enfrenta um déficit mensal superior a R$ 200 mil. Em carta aberta à sociedade, divulgada nesta sexta-feira (8), a direção apontou omissão das autoridades municipais e estaduais diante da crise.
Crise Financeira no Hospital Indígena
Segundo o presidente da Missão Evangélica Caiuá, Paulo César de Souza, o rombo financeiro é consequência do descompasso entre o repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) e o custo real para manter o funcionamento 24 horas. Ele afirma que, apesar de estarem contratualizados 2.500 atendimentos mensais, o hospital realiza mais de 8.000, com volume de exames e procedimentos acima do previsto. “Atendemos 100% SUS e o repasse é insuficiente, o que gera um déficit que se acumula mês a mês”, relatou.
Se a unidade for fechada, a comunidade indígena e parte da população carente de Dourados e região perderão seu único hospital especializado. Nesse cenário, o atendimento deverá ser buscado em unidades urbanas sem preparo para a realidade cultural dessas populações.
“Fechar um hospital é fácil. Reabrir é quase impossível. Quando o poder público se omite, não é apenas a porta de um hospital que se fecha, é a porta do cuidado, da dignidade e do direito à saúde de milhares de cidadãos brasileiros”, alertou o dirigente.
Pedidos de aumento no financiamento de custeio, habilitação da sala de emergência na Rede de Urgência e Emergência e reequilíbrio contratual com o SUS foram encaminhados pela Missão Caiuá. Atualmente, o hospital recebe R$ 35 mil por mês da Prefeitura de Dourados e o mesmo valor do Governo do Estado, quantia considerada insuficiente pela administração.
“Há mais de dois anos pedimos a recomposição, mas a prefeitura adia a decisão e o Governo do Estado não apresenta resposta concreta”, criticou Souza.
Impacto e Próximos Passos
A inauguração do SAMU Indígena na Reserva de Dourados, marcada para este sábado (9), contrasta com a ameaça de fechamento. Apesar da ausência do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que cancelou a visita na última quinta-feira (7), o evento será realizado.
Para Paulo César, a iniciativa é positiva, mas não resolve a lacuna no atendimento.
“É um avanço no pré-hospitalar, reconhecemos isso. Mas ambulâncias precisam de porta de entrada. Sem um hospital especializado, cria-se um vazio na linha de cuidado: resgate existe, destino adequado não”, reforçou.
O presidente ainda destacou que todo o trabalho da diretoria é voluntário e custeado pelas igrejas que representam. “Nossa missão é pelo amor aos povos indígenas”, concluiu.
Em resposta a nossa reportagem, a prefeitura de Dourados respondeu:
A Prefeitura de Dourados não vai se manifestar sobre a Carta Aberta divulgada pela Missão Evangélica Caiuá por entender que o problema de fomento de despesas do Hospital Indígena Porta da Esperança é de responsabilidade do Governo Federal.
Até o momento do fechamento de reportagem não houve resposta do Governo do Estado.