Uma proposta em discussão no governo federal que pode acabar com a obrigatoriedade de aulas em autoescolas para quem deseja tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias A e B tem gerado polêmica em todo o país. A medida, que promete reduzir em até 80% o custo da habilitação, é vista com preocupação por instrutores e representantes do setor, que alertam para riscos à segurança no trânsito e perdas de emprego.
Setor teme impacto no emprego e na segurança
De acordo com o diretor do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Mato Grosso do Sul, Dionnes Jorge de Santana, a mudança colocaria em risco milhares de trabalhadores.
“No Estado, temos cerca de 260 autoescolas. Caso a medida avance, entre 1.800 e 2.000 empregos diretos podem ser perdidos, fora os prestadores de serviço, como mecânicos e empresas de tecnologia que mantêm o sistema de ensino”, alertou.
Santana defende que a melhor forma de tornar a CNH mais acessível seria reduzir taxas do Detran e fortalecer programas como o CNH Social, que oferece habilitação gratuita a pessoas de baixa renda.
Atualmente, o CNH-MS Social beneficia cerca de 5 mil pessoas por ano no Estado, atendendo cidadãos inscritos no CadÚnico e com renda familiar limitada.
Mercado e arrecadação
O diretor também lembrou que o setor movimenta valores expressivos em Mato Grosso do Sul.
“A média de preço de uma habilitação é de R$ 2.500, sendo que mais de R$ 1.000 vão para o Detran. O restante é usado para manter a estrutura das autoescolas e custear as aulas obrigatórias. Em Três Lagoas, onde há 78 mil condutores, o valor total movimentado pode ultrapassar R$ 197 milhões”, explicou.
Especialistas defendem formação prática
Instrutores afirmam que a formação prática é essencial para garantir a segurança nas vias.
“Dirigir vai muito além da teoria. Enfrentar o trânsito, tomar decisões rápidas e agir com responsabilidade são habilidades que só se aprendem com acompanhamento profissional”, ressaltou.
O diretor da Autoescola União, Cleiton Abraão Ataíde, lamentou a proposta e destacou que o governo deveria ouvir os profissionais antes de decidir.
“É um tema muito preocupante. A decisão foi tomada sem ouvir a base, que somos nós. Se for aprovada, trará prejuízo para a sociedade e para a segurança no trânsito. O processo precisa evoluir, mas sem prejudicar empregos e a qualidade da formação dos motoristas”, afirmou.
Debate em aberto
O setor pede diálogo com o governo federal antes que qualquer mudança seja implementada. Para os instrutores, o desafio é modernizar o sistema de formação sem comprometer a segurança nas ruas.
“Não somos contra mudanças. Queremos evoluir, mas com responsabilidade. O trânsito brasileiro já é perigoso, e tirar a formação das autoescolas só vai piorar”, concluiu Ataíde.