Tutancâmon desperta fascínio universal, sendo um ícone do esplendor faraônico, envolto em lendas e mistérios. Durante a nossa viagem de nove dias ao Egito, visitamos os principais pontos turísticos, de norte ao sul, sob um sol escaldante e caminhando sobre a areia desértica. Visitamos a tumba de Tutancâmon no Vale do Reis, em Luxor, bem como os três principais museus do Cairo (que exibem os principais tesouros encontrados no interior da tumba).
A morte de Tutancâmon
Tutancâmon assumiu o trono egípcio aos nove anos e morreu apenas 10 anos depois, aos 19, por volta de 1323 a.C. Durante décadas, especulou-se que teria sido assassinado, hipótese atualmente bastante contestada, mantendo a morte dele como um dos grandes enigmas da arqueologia. A teoria mais aceita atualmente, com base em tomografias e testes de DNA realizados em sua múmia, aponta que o jovem faraó teria contraído malária, agravada por uma infecção generalizada (septicemia) causada por uma fratura na perna esquerda.
Tutancâmon era filho do faraó Akhenaton com sua própria irmã, o que resultou em alta consanguinidade e diversas deformações físicas, com a presença de múltiplas muletas em sua tumba reforçando essa condição debilitada. Casou-se com sua meia-irmã, com quem teve duas filhas, porém ambas natimortas.
A tumba de Tutancâmon foi encontrada em 1922, numa montanha desértica denominada Vale dos Reis, perto de Luxor, após cinco anos de buscas aleatórias lideradas arqueólogo britânico Howard Carter. Os corpos mumificados dos faraós eram levados através de corredores escavados (muitos deles com mais de 100 m). As entradas eram rigorosamente tampadas, para evitar que os túmulos fossem saqueados. A ação dos ventos, por milênios, fez com que as dunas se movessem, por isso descobrir um desses túmulos é encontrar uma agulha no palheiro. Diferentemente de outras tumbas saqueadas ao longo dos séculos e milênios, a de Tutancâmon estava praticamente intacta: um verdadeiro tesouro arqueológico que revelou ao mundo o esplendor do Egito Antigo. Tudo o que o faraó precisaria para a vida eterna estava junto de seu corpo mumificado. No caso de Tutancâmon, eram mais de cinco mil artefatos, desde alimentos a tesouros valiosíssimos.
Tutancâmon restaurou a ordem religiosa e social
Akhenaton, pai de Tutancâmon, promoveu uma revolução religiosa ao substituir o tradicional panteão de muitos deuses pelo culto exclusivo ao deus solar Aton: implantou o monoteísmo, uma mudança que não foi apenas espiritual, mas também política, pois enfraqueceu o poder dos sacerdotes, centralizando, assim, a autoridade religiosa no faraó.
Com a morte do pai, o novo rei, ainda menino e por influência de conselheiros e da elite sacerdotal, reverteu as reformas religiosas, restaurou o culto aos deuses tradicionais (especialmente Amon) e restabeleceu Tebas (atualmente Luxor) como capital, pacificando a elite religiosa e política, que havia sido marginalizada por Akhenaton.
Essa tentativa de transformação religiosa foi uma das mais radicais da história egípcia, mas durou pouco, aproximadamente 17 anos, e foi amplamente apagada pelos sucessores, que chegaram a chamar Akhenaton de “faraó herege” nos registros oficiais em hieróglifos.
Maldição de Tutancâmon
Um dos mistérios mais fascinantes que cercam essa descoberta é a chamada Maldição do Faraó, que, segundo relatos, estava inscrita numa pedra de argila encontrada na antecâmara da tumba, advertindo: “A morte atacará aqueles que perturbarem o repouso do faraó.”
A superstição ganhou força quando, nos anos seguintes à abertura da tumba, das 26 pessoas envolvidas na expedição seis morreram, incluindo Lord Carnarvon, o financiador da missão, que faleceu poucos meses depois, acometido por uma infecção misteriosa.
Estudos atuais sugerem que essas mortes podem ter sido causadas por fungos e bactérias selados na tumba por mais de três milênios, organismos potencialmente letais ao entrarem em contato com o sistema imunológico humano.
Dois famosos personagens
Tal como Tutancâmon, é impossível falar do Egito sem fazer referência à Cleópatra, ambos separados por aproximadamente 1.300 anos. Cleópatra VII viveu em Alexandria, Egito, onde nasceu em 69 a.C. e morreu em 30 a.C., aos 39 anos. Ela foi a última governante ativa da dinastia ptolomaica, descendente de Ptolomeu I, um general de Alexandre, o Grande. Embora fosse de origem greco-macedônica, Cleópatra foi a única de sua dinastia a aprender a língua egípcia, o que reforça seu vínculo com o povo egípcio, tendo vivido numa época áurea da tão decantada Biblioteca de Alexandria, assunto para um de nossos próximos artigos.