O Golpe Militar de 1964 foi recordado no sábado (31), quando completou 48 anos do ocorrido. A reportagem no Portal JPTL conversou com o Doutor Vitor Wagner Neto de Oliveira sobre o evento. Confira o que o professor relatou sobre o acontecimento, objetivos, mudanças e reflexos do evento.
Portal JPTL: O que foi o Golpe Militar e qual era o objetivo?
VW: “Foi um golpe civil-militar com objetivo de barrar as forças progressistas e de esquerda que avançavam na democratização do país e na conquista de direitos políticos e trabalhistas. Com a justificativa de impor a paz social e acabar com a super inflação”.
Portal JPTL: Porque até hoje esse acontecimento tem relevância?
VW: “Por se tratar de um evento histórico conservador que impôs o terror de Estado perseguindo seus opositores, cassando políticos legitimamente eleitos, fechando o Congresso Nacional, prendendo e torturando militantes”.
Portal JPTL: Qual o motivo de recordar esse evento?
VW: “Rememoramos para que não nos esqueçamos das arbitrariedades do Estado autoritário. Neste sentido, acho que rememorar o Golpe é importante, pois, nos coloca em alerta para outros ataques à democracia que podem acontecer. Nunca teremos a garantia absoluta de que um evento desta natureza não voltará a ocorrer. Por isso, temos que lembrar sempre dos desaparecidos, mortos e torturados”.
“Temos o direito à memória, e isso tem sido negado constantemente. A abertura dos arquivos da Ditadura é parte de um debate ainda mais profundo: o julgamento dos responsáveis pelas torturas e assassinatos durante o período”.
Portal JPTL: Quais as principais mudanças ocasionadas pelo Golpe Militar?
VW: “A ideologia autoritária teve reflexos no cotidiano dos brasileiros, em todos os âmbitos da sociedade, como por exemplo na escola (educação tecnocrata). O “milagre econômico” do final dos anos 1960 e primeira metade dos 70, foi fruto de uma conjuntura internacional que favoreceu o Brasil, somada ao arrocho salarial e ao controle sindical, o que favoreceu a concentração de renda”.
Portal JPTL: Quais reflexos hoje do Golpe Militar em nossa sociedade?
VW: “A relação do Estado brasileiro com a sociedade civil organizada, especialmente os movimentos políticos e sociais, é ainda muito permeada pelo autoritarismo construído pelo Regime civil-militar. A apropriação do Estado pela iniciativa privada, como sendo a extensão de um negócio particular, também é algo que permanece em nossos dias e que tem uma linha de continuidade com o período militar”.
“Atualmente a imprensa livre pode revelar as falcatruas e por isso, muitas vezes, tem-se a sensação de que antes era “melhor do que agora”. Mas não podemos esquecer que vivemos ainda um Estado de alerta, e é isso que impede a abertura total dos arquivos da Ditadura. Vivemos um embate intenso sobre a abertura dos arquivos históricos do período da Ditadura, mas nenhum governo pós-1985 foi forte o suficiente para abrir esses documentos à consulta pública. No Brasil, a anistia serviu para perdoar os assassinos e torturadores (diretamente envolvidos ou mandantes), às expensas dos homens, mulheres e crianças que sofreram a repressão do Estado”.