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Três Lagoas

Serviço de Oncologia fecha portas para novos pacientes

Por falta de recursos, novos pacientes terão de fazer tratamento em outros municípios

Construída há dois anos, estrutura física do serviço só suportará a demanda até junho de 2010 -
Construída há dois anos, estrutura física do serviço só suportará a demanda até junho de 2010 -

Por falta de recursos, o Serviço de Oncologia do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora teve de fechar as portas para o tratamento de novos pacientes. De acordo com o cirurgião oncológico Eduardo Marques Lima, a primeira transferência aconteceu na última quinta-feira (17), um paciente com mais de 40 anos, vítima de sarcoma (tipo raro de câncer que ataca tecidos moles do corpo como intestino, estômago e fígado). “O tratamento deste paciente custa mais de R$ 6 mil ao mês. Infelizmente, não temos este recurso e tivemos de encaminhá-lo para Barretos [Hospital do Câncer de Barretos]. Ele foi só o primeiro, muitos mais terão de ser tratados fora, caso nada seja feito para mudar esta situação”, disparou.

O serviço de alta complexidade – e um dos mais caros do hospital – foi implantado há dois anos em Três Lagoas. Durante o primeiro ano, o governo Estadual realizou o repasse de R$ 50 mil mensais até que o hospital conseguisse o credenciamento junto ao Ministério da Saúde –  por meio do Instituto Nacional de Câncer (Inca) – para receber recursos do SUS. Porém, no final do ano passado, o prazo do convênio venceu, o repasse foi suspenso e, sem o credenciamento, o serviço vem sendo mantido apenas com recursos do hospital.

“Oncologia custa caro. O tratamento de quimioterapia custa em média R$ 4 mil ao mês por paciente, custo que foi mantido pelo hospital por um ano. Mas Nossa Senhora Auxiliadora também passa por uma séria crise financeira, endividamento que foi agravado pelo serviço”.

A falta de recursos, de acordo com o cirurgião, fez com que a equipe – composta por três médicos – tomasse uma decisão: ou suspenderia o tratamento de novos pacientes ou deixaria a qualidade do serviço comprometida para atender a todos. “Optamos pela primeira”, disse.
Lima garantiu que o atendimento não fora suspenso. “Ainda estamos atendendo os pacientes que nos são encaminhados. Estamos fazendo a triagem. Se necessário, fazemos a intervenção cirurgia, mas o tratamento de quimioterapia terá de ser fora”.

O oncologista também não sabe por quanto tempo o hospital conseguirá arcar com o custo das cirurgias do setor. “Hoje, estamos fazendo cirurgias aqui. Mas, caso nada seja feito, as intervenções cirurgias também poderão ser suspensas”.

O cirurgião explica o motivo do corte no tratamento de novos pacientes. “Ao contrário de outras doenças, em que o paciente vem, opera e, ao menos com aquele problema de saúde, ele nunca mais será visto. O paciente com câncer vem e fica”, explicou.

Desde que implantado, o serviço de oncologia foi responsável por 1,5 mil consultas, 382 cirurgias – três delas realizadas apenas na quarta-feira passada (16) -, e o tratamento de quimioterapia em 130 pacientes, aproximadamente. Hoje, são 48 pacientes freqüentando as sessões de quimioterapia. (radioterapia ainda é feita hospitais da região).

Hospital depende de recursos do SUS

O cirurgião oncológico Eduardo Marques Lima afirma que a melhor forma de garantir do Serviço de Oncologia é o credenciamento junto ao Ministério da Saúde. “Mesmo sabendo que o SUS paga um valor inferior ao realmente gasto, precisamos deste subsídio credenciado para conseguir recursos, doações e outros benefícios”, explicou. A insuficiência dos recursos repassados pelo SUS foi apresentado como um dos principais motivos da crise no hospital, como havia anunciado a direção em novembro.

O cirurgião explicou que a última exigência já foi cumprida: a criação de uma equipe multidisciplinar, composta por dez profissionais, entre médicos, enfermeiros, assistente social, psicólogo, farmacêutico e etc. “Desde que implantado, realizamos uma série de adequações para ficar de acordo com o determinado pelo Inca. Hoje, não há mais nada pendente. O que nos foi cobrado, foi cumprido. Estamos aguardando a nova vistoria do Ministério da Saúde. Agora, até lá, quem banca o tratamento destes pacientes?. Temos uma paciente com câncer de mama. Ela começará a quimio em janeiro. Só não sabemos se será aqui ou fora”, disse.

Atualmente, o HNSA acumula uma dívida de mais de R$ 4 milhões. A oncologia aparece em segundo lugar entre os serviços mais caros oferecidos pelo SUS. Apenas até setembro deste ano, foram R$ 856 mil gastos no atendimento de pacientes com câncer. A Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) aparece em primeiro, com um gasto de R$ 2,8 milhões.

Neste mês, a Prefeitura realizou um repasse no valor de R$ 1,120 milhão como auxílio financeiro ao hospital. No entanto, o recurso foi o suficiente apenas para o cumprimento de obrigações sociais em atrasos.

ESTRUTURA

A falta de recursos não é o único problema do setor de oncologia do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora. A previsão é que, até maio de 2010, o espaço físico do local também fique comprometido. “O espaço que temos é o suficiente hoje. Mas dentro de poucos meses será pequeno. Como disse, os pacientes de câncer ficam. O tratamento é longo”.

Baseado na estimativa 2010 do Inca, o cirurgião oncológico explicou que Três Lagoas terá cerca de 260 novos casos de câncer no próximo ano. “Destes, a média é que 170 (correspondente a 70%) seja de tratamento longo. Somados com os pacientes já existentes e aqueles casos ainda não detectados do ano passado, teremos 500 casos acumulados”.

Ainda segundo o Inca, 3,1 mil sul-mato-grossenses desenvolverão alguma neoplasia em 2010. “A maioria delas pode ser prevenida”, destacou Lima, que citou ao menos quatro tipos de cânceres provocados exclusivamente pelo tabaco.
 
Diagnósticos de câncer de mama aumentam em Três Lagoas

Pela estimativa do Inca, 23 mulheres desenvolvem o câncer de mama por ano em Três Lagoas, sendo que 22 delas foram encontradas e estão em tratamento.  Esse atendimento demonstra a eficiência do Serviço de Oncolologia e da Clínica da Mulher em combater a doença envolvendo este público.

O índice representa um aumento considerável nos diagnósticos quando comparado aos anos anteriores. Em 2007, foram apenas dois casos detectados no Município, índice que apresentou pequena melhora no ano passado, quando seis casos foram descobertos. Já neste ano, 17 pacientes foram operadas e tratadas aqui e cinco delas tiveram de ser encaminhadas à Barretos (SP).

Conforme a diretora da Clínica da Mulher, Elaine Cristina Ferrari Furio, o número de casos detectados faz parte do trabalho preventivo da clínica. “Não são os caos que aumentaram. Nós temos 23 novos casos todos os anos. Está comprovado cientificamente. Mas, ao menos, estamos conseguindo localizar estas pacientes antes que seja tarde de mais”.

A estimativa do Inca aponta que, por ano, 1.290 mulheres desenvolvam o câncer em Mato Grosso do Sul. O câncer de mama está em primeiro lugar no ranking, com 550 casos; seguido pelo câncer no colo do útero, 310; câncer no cólon e no reto (170) e de pulmão, traquéia e brônquio, com 130 casos.