Criar um elo entre aqueles com disposição para ajudar e crianças e adolescentes que precisam deste apoio. Este é o principal objetivo do Projeto Padrinho que será lançado pela Vara da Infância e da Juventude de Três Lagoas no começo deste ano.
Segundo a coordenadora do projeto no Estado, a psicóloga, Rosa Pires Aquino, o projeto nasceu da necessidade encontrada pela Vara da Infância de Campo Grande para proporcionar às crianças que não tinham oportunidade de adoção as chances de ter um convívio social e apoio de uma família.
“Quando mais velha for a criança, menor é a chance de ela ser adotada. Após os seis anos de idade é raro a adoção. O mesmo vale para as crianças com algum tipo de necessidade especial. Infelizmente, a preferência para adoção é por bebês saudáveis. O restante acaba ficando nos abrigos por toda a vida. Foi para este público que o projeto foi pensado”, explicou.
Em contrapartida, o Padrinho também auxilia muitas pessoas que não estão dispostas a adotar uma criança, mas sentem necessidade de colaborar de alguma forma. Para elas, o projeto prevê quatro tipos de apadrinhamento e o interessado poderá escolher em qual melhor se enquadra.
As modalidades são as seguintes: padrinho afetivo (em que o voluntário usa o tempo livre para ficar com a criança, como os fins de semana), financeiro (disponibiliza uma ajuda mensal, de qualquer valor, ao afilhado), família acolhedora (quando toda a família é envolvida no processo e a criança mora provisoriamente na casa), padrinho prestador de serviços (médico, dentista, entre outros profissionais, que atendem várias crianças ao mesmo tempo, com consultas gratuitas) e empresa, entidade ou instituição madrinha (empresário que proporciona, por exemplo, o primeiro emprego a um adolescente).
No entanto, para participar, os padrinhos deverão passar por uma triagem realizada pela Vara da Infância e da Juventude. De acordo com Rosa, a seleção dos padrinhos é criteriosa. Uma das características essenciais é o desprendimento. “O padrinho precisa ter consciência de que ele ajudará a criança naquele momento de transição até que alguém a adote, ou até que ele atinja a maioridade. Não é um caminho para a adoção. É importante deixar isto claro”.
A coordenadora completa: “Ele [padrinho] será um amigo daquela criança ou adolescente que vive em um abrigo, oferecendo carinho, atenção, reforço escolar, ajudar com o custeio de cursos e assim por diante. Em Campo Grande, tivemos casos de padrinhos que adotaram as os afilhados, mas este não é o objetivo do projeto”.
RESULTADOS
A coordenadora garante que o projeto trouxe bons resultados. Em Campo Grande, 140 crianças de zero a 18 anos foram apadrinhadas de alguma forma. Desde o lançamento do projeto, 57 crianças com mais de sete anos foram adotadas pelos seus padrinhos. “Também temos muitos casos de adolescentes que foram colocados no mercado de trabalho por meio do projeto e já caminham para o desligamento”.
Rosa reforça também que o projeto vem com o objetivo de acabar com o preconceito que gira em torno das crianças abrigadas de todo o País. “Muitos pensam que crianças que vivem em abrigos são infratoras. Muito pelo contrário, são crianças que, por algum motivo, tiveram de ser retiradas do convívio familiar ou foram abandonadas”.
O projeto também se estende à crianças de famílias carentes.
PIONEIRA
O Projeto Padrinho foi implantado em 26 de junho de 2.000, pela juíza Maria Isabel de Matos Rocha, da Vara da Infância e da Juventude de Campo Grande, como programa de solidariedade e apoio da sociedade civil às crianças e adolescentes abrigados. Desde então, a iniciativa vem sendo referência para todo o Brasil – em 2007, o Poder Judiciário do Estado conquistou o prêmio nacional no concurso “Mude um Destino”, da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).
Hoje, o Projeto Padrinho já funciona em comarcas como Campo Grande, Corumbá, Aquidauana e Dourados. A expectativa é o lançamento do projeto em Três Lagoas aconteça em fevereiro.
Em novembro do ano passado, seis funcionárias da Vara da Infância foram capacitadas para atuar no projeto. A previsão é que as inscrições dos candidatos à padrinho sejam abertas também no próximo mês.
Perfil de abrigos:
– 589 abrigos em todo o Brasil
– 65% são não-governamentais
– 67,2% são com influência religiosa
– 58,5% dos recursos para manutenção dos abrigos são privados
Perfil de crianças e adolescentes abrigados:
– No Brasil são 80 mil crianças abrigadas
– 10,7% estão judicialmente disponíveis para adoção
– 34,2% moram em abrigos por conta da pobreza
– 18,8% por abandono
– 11,7% por conta da violência doméstica
– 11,4% por conta da dependência química dos responsáveis (incluindo alcoolismo)
– 58,5% são meninos
– 63,6% afro-descendentes
– 61,3% entre 7 e 15 anos
– 11,7% têm menos de três anos de idade
– Mais de 50% estavam abrigadas mais de 2 anos