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Editorial

Arrecadação alta, trânsito crítico

Leia o editorial do Jornal do Povo deste sábado que aborda a arrecadação alta de IPVA e os baixos investimentos no trânsito de Três Lagoas

Com uma frota de 103 mil veículos, composta principalmente por carros e motos, o município registrou, entre janeiro e novembro de 2024, 1.350 acidentes e 13 mortes
Com uma frota de 103 mil veículos, composta principalmente por carros e motos, o município registrou, entre janeiro e novembro de 2024, 1.350 acidentes e 13 mortes | Foto: Arquivo/JP

A arrecadação do Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) em Três Lagoas impressiona, mas o retorno desses recursos ao trânsito local ainda é insatisfatório. De janeiro a novembro de 2024, a prefeitura recebeu R$ 32,4 milhões provenientes do imposto, metade dos mais de R$ 60 milhões arrecadados com veículos registrados no município. Para 2025, a estimativa é que o governo estadual arrecade R$ 73 milhões apenas com veículos de Três Lagoas, dos quais R$ 36 milhões devem ser destinados à cidade.

Apesar dessa receita expressiva, o trânsito em Três Lagoas enfrenta desafios. Com uma frota de 103 mil veículos, composta principalmente por carros e motos, o município registrou, entre janeiro e novembro de 2024, 1.350 acidentes e 13 mortes. Esses números evidenciam não apenas falhas na infraestrutura viária, mas também a necessidade urgente de ações que priorizem segurança e conscientização.

Embora o IPVA tenha sido originalmente criado para financiar estradas e rodovias, hoje ele possui uma função mais ampla no orçamento público. Muitas vezes, os recursos são alocados para áreas distintas, sem relação direta com o trânsito. Em Três Lagoas, a falta de transparência dificulta o acompanhamento de quanto desse montante é realmente investido em mobilidade urbana. Apesar de vinculado à Secretaria de Infraestrutura, o trânsito local sofre com a ausência de investimentos evidentes. Aplicar os recursos do IPVA de forma eficiente não é apenas uma obrigação legal, mas um compromisso com a vida dos cidadãos.

O poder público precisa priorizar o uso desses recursos em iniciativas que impactem diretamente a segurança e a qualidade do trânsito. Medidas como o fortalecimento de campanhas educativas permanentes, a modernização da sinalização viária e a instalação de semáforos inteligentes são fundamentais. Além disso, tecnologias de monitoramento e fiscalização podem trazer resultados rápidos e consistentes na redução de acidentes. Projetos que integrem infraestrutura e segurança, como a ampliação de faixas de pedestres, a criação de ciclovias e a instalação de espaços acessíveis para cadeirantes, também são essenciais para promover um trânsito mais inclusivo, seguro e eficiente.

Os cidadãos têm o direito de saber como os recursos do IPVA estão sendo utilizados. Mais do que números no Portal da Transparência, é necessário detalhar os investimentos no trânsito, especialmente em uma cidade com tantos veículos circulando diariamente.

Três Lagoas merece um trânsito à altura de sua arrecadação, que em 2025 deve atingir R$ 1,4 bilhão. O elevado número de acidentes e mortes não pode ser tratado como algo normal. O destino dos recursos arrecadados precisa atender às reais necessidades da população, priorizando o bem-estar e a segurança. Afinal, vidas humanas valem mais do que qualquer cifra.