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ALÍVIO IMEDIATO

Acordo tira Santa Casa da ala "vermelha" sem previsão de alta em 2026

Acordo injeta R$ 60 milhões na Santa Casa até abril de 2026, paga médicos e 13º, mas deixa dúvidas sobre futuro do hospital.

Fachada da Santa Casa de Campo Grande sob chuva, simbolizando crise e alívio temporário com acordo financeiro
Aporte de R$ 60 milhões garante fôlego à Santa Casa até abril de 2026, com recursos carimbados e cobrança por gestão.

O acordo firmado nesta segunda-feira (29) entre a Santa Casa, o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande conseguiu, inegavelmente, tirar o maior e mais importante Hospital do Estado de uma situação grave, mesmo momentaneamente.

O portal RCN 67 teve acesso ao documento firmado com o ministérios público de Mato Grosso do Sul, nele está detalhado os aportes do poder público apagam o incêndio imediato da greve médica e do 13º salário dos funcionários. Contudo, uma leitura atenta das cláusulas e da ata da reunião revela que a resolução para a questão financeira da Santa Casa é, na prática, um “torniquete financeiro” com data de validade estrita: abril de 2026. O pacto levanta sérias dúvidas sobre como a instituição se manterá de pé a partir do quinto mês do ano.

O Horizonte de Quatro Meses

O documento é claro ao definir a “natureza extraordinária temporária” dos recursos. O cronograma de desembolso é uma contagem regressiva: parcelas mensais garantidas apenas de janeiro a abril de 2026.

Não há no documento qualquer previsão de aumento permanente no teto de repasses ou reestruturação de contratos de longo prazo que garantam a sustentabilidade após o fim desses aportes. Em outras palavras, o acordo resolve o passado, garante o presente até abril, mas deixa o futuro em aberto.

Engenharia dos Recursos

Os valores a serem aportados de várias fontes e situações evidenciam que uma engenharia financeira precisou ser construída para que se chegasse aos R$ 60 milhões que serão repassados extraordináriamente à Santa Casa.

Fonte Pagadora Natureza do Recurso Valor Total Parcelamento Datas de Pagamento / Vencimento
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul Repasse Financeiro Extraordinário R$ 14.064.000,00 4 parcelas mensais de R$ 3.516.000,00 Todo dia 10, de Janeiro a Abril de 2026
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul Cota Extra (Destinada ao 13º Salário) R$ 9.000.000,00 Parcela Única Até o dia 10 de janeiro de 2026
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul Emendas Parlamentares Federais R$ 16.000.000,00 3 parcelas variáveis 1ª: R$ 5.000.000,00 até 31/01/2026
2ª: R$ 6.000.000,00 até 28/02/2026
3ª: R$ 5.000.000,00 até 31/03/2026
Município de Campo Grande Aporte Financeiro Adicional R$ 5.200.000,00 4 parcelas mensais de R$ 1.300.000,00 Todo dia 10, de Janeiro a Abril de 2026
Município de Campo Grande Acordo de Leniência com o MPMS R$ 9.917.702,00 2 parcelas variáveis 1ª: R$ 5.000.000,00 em 10/02/2026
2ª: R$ 4.917.702,00 em 10/03/2026
Ministério da Saúde Repasse Federal R$ 5.954.385,00 Parcela Única (composta na planilha de Janeiro) Janeiro de 2026
TOTAL GERAL PREVISTO NA ATA R$ 60.136.087,00

Mãos Atadas e Renúncia de Direitos

O acordo impõe um regime de tutela rígida. O dinheiro é “carimbado” exclusivamente para médicos e 13º salário, sendo vedado seu uso para fornecedores, impostos ou passivos bancários. Se o hospital tiver uma crise de abastecimento de remédios ou insumos, esses R$ 60 milhões não poderão ser usados, mantendo o risco de colapso assistencial por outras frentes.

Além disso, para receber o socorro, a Santa Casa foi obrigada a renunciar aos direitos pleiteados na ação judicial nº 0854702-73.2025.8.12.0001. Isso significa que a instituição abre mão de discutir judicialmente eventuais subfinanciamentos passados em troca do caixa imediato, queimando uma ponte jurídica que poderia render frutos a longo prazo.

Conclusão

O acordo de 29 de dezembro é um sucesso diplomático, mas um risco administrativo. Os recursos financeiros dedicados à Santa Casa compraram quatro meses de paz social nos corredores do hospital ao custo de emendas parlamentares e verbas de punição (leniência).

Para usar uma analogia médica: o acordo funcionou como um desfibrilador potente capaz de reiniciar o coração da Santa Casa que estava parando, mas não tratou a doença crônica que causou a parada cardíaca. O paciente está vivo, mas a alta médica em maio de 2026 permanece uma incógnita perigosa.