
A proposta da prefeitura de Campo Grande para desafetar e doar ao Estado a área hoje ocupada pelo Batalhão de Polícia de Trânsito, na região central, para a construção do novo Fórum Criminal, enfrentou resistência e acabou derrotada na Câmara Municipal. O projeto exigia 20 votos favoráveis, mas não atingiu o quórum necessário após uma série de críticas sobre a ausência de contrapartidas do governo estadual ao município.
No texto aprovado em primeira análise pelas comissões, a matéria desafetava o terreno de uso público e já autorizava a doação ao Estado, com a justificativa de concentrar 24 varas criminais em um único complexo e dar mais celeridade ao julgamento de processos. A vereadora Ana Portela defendeu a proposta, lembrou o aumento dos casos de violência — em especial feminicídios — e afirmou que o novo fórum traria mais agilidade e segurança jurídica para a população.
Por outro lado, a oposição e parte da base questionaram o custo da operação para os cofres municipais. O vereador Jean Ferreira destacou que o terreno está avaliado em cerca de R$ 13 milhões e argumentou que a prefeitura enfrenta dificuldades para manter serviços básicos, inclusive na saúde, enquanto abre mão de um ativo valioso sem qualquer compensação financeira ou permuta equivalente por parte do Estado.
Além disso, o petista lembrou que o orçamento do Judiciário sul-mato-grossense para 2026 é robusto e permitiria ao próprio Tribunal de Justiça adquirir ou indenizar a área em vez de receber o imóvel gratuitamente. Nesse sentido, ele afirmou que não é contra a construção do Fórum Criminal, porém considera irresponsável doar o terreno nessas condições, em meio a cortes e restrições orçamentárias em diversas áreas do município.
A vereadora Luíza Ribeiro seguiu a mesma linha. Ela ressaltou a importância simbólica e estratégica daquele quarteirão para Campo Grande e criticou a “pressa” na tramitação, iniciada em novembro. Segundo a parlamentar, nenhum estudo concreto sobre contrapartidas foi apresentado, nem houve sinalização de que o Estado devolva à cidade outro espaço de igual relevância ou auxilie em áreas sensíveis, como segurança de mulheres e políticas de proteção.
Durante a votação, o presidente da Câmara, vereador Pap, esclareceu que o projeto não tratava apenas da desafetação, mas também já autorizava a doação da área ao Estado, o que ampliou o peso político da decisão. Assim, vários vereadores preferiram recuar, defendendo que o município renegocie os termos com o governo estadual antes de voltar com uma nova proposta ao plenário.
Com o resultado, a doação da área para o Fórum Criminal fica travada, e o Executivo terá de escolher entre insistir no mesmo desenho, buscar contrapartidas mais claras com o Estado ou localizar outro terreno para atender à demanda do Judiciário. Enquanto isso, a Câmara reforça seu papel de freio e contrapeso, cobrando que grandes operações patrimoniais sejam acompanhadas de benefícios concretos para a população campograndense.