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ENTREVISTA

Comunidade Tia Eva celebra legado de resistência e cobra apoio do poder público

Presidente da associação destaca importância histórica, projetos de valorização cultural e cobra políticas públicas mais efetivas para a população negra de Campo Grande

reja de São Benedito – Tia Eva, em Campo Grande - Foto: Ariovaldo Dantas
reja de São Benedito – Tia Eva, em Campo Grande - Foto: Ariovaldo Dantas

No dia 13 de maio — data que marca a abolição da escravidão no Brasil e é reconhecida como o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo — o presidente da Associação dos Descendentes de Tia Eva, Ronaldo Jefferson da Silva, reforçou, em entrevista ao programa Microfone Aberto da Massa FM Campo Grande, a importância da memória, da luta por reconhecimento e da urgência por ações efetivas nas comunidades negras.

A Comunidade Tia Eva, fundada por Eva Maria de Jesus em 1905, é reconhecida como território quilombola e carrega consigo mais de um século de tradição e resistência. “A história da Tia Eva se confunde com a própria história de Campo Grande. Ela chegou aqui com sabedoria, sendo benzedeira, parteira, cozinheira, e rapidamente se tornou uma referência para todos da cidade”, destacou Ronaldo.

Ronaldo Jefferson da Silva nos estúdios da Massa FM Campo Grande – Foto: Luiz Gustavo Soares/Portal RCN67

106ª Festa de São Benedito

Um dos maiores legados deixados por Tia Eva foi a Festa de São Benedito, que chega à sua 106ª edição em 2025. “Ela fez uma promessa: se fosse curada de uma ferida na perna, faria todos os anos uma festa para São Benedito. E até hoje a tradição é mantida”, contou Ronaldo.

A igreja São Benedito, no coração da comunidade, é símbolo dessa história e aguarda início das obras de restauração, já licitadas.

O presidente fez questão de convidar a população para participar da festa neste final de semana. A programação conta com pagode na sexta-feira, baile no sábado, procissão e missa no domingo, além do tradicional Torneio Tia Eva e apresentações musicais.

Projeto de futuro: Corredor Cultural Gastronômico

Entre os projetos em andamento, está a criação de um Corredor Cultural Gastronômico. A proposta prevê a padronização de calçadas, reforma da fachada da igreja e do salão, e a criação de uma feira permanente.

“A ideia é transformar a comunidade em um centro cultural, o que ela já é, e gerar renda para nossos moradores”, afirmou.

Segundo Ronaldo, a gastronomia é um dos pontos fortes da comunidade. “A gente se reúne, e a comida é sempre excelente. Temos doces, feijoadas… por que não transformar isso em renda?”, pontuou.

Ele também defendeu a criação de cursos profissionalizantes, especialmente para os jovens, em áreas como gastronomia e artesanato.

Falta de apoio e ausência de políticas públicas

Apesar do reconhecimento histórico, a comunidade ainda enfrenta o descaso do poder público. “O esgoto só chegou na comunidade no ano passado, depois de 126 anos. É o básico, e mesmo assim fomos esquecidos”, lamentou.

Ronaldo fez um apelo direto às autoridades, especialmente vereadores e deputados, para que implementem políticas públicas voltadas às periferias e à população negra. “Precisamos de políticas culturais, de cursos profissionalizantes, de investimento nos nossos jovens. O poder público precisa olhar para nós”, afirmou.

Ele também criticou a falta de apoio institucional para a Festa de São Benedito, mesmo estando no calendário oficial do município. “Nos falta apoio financeiro e estrutural. Nós começamos a história de Campo Grande e ainda não conquistamos esse reconhecimento.”

Confira a entrevisa na íntegra: