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Copom aponta descontrole fiscal e inflação resistente como justificativas para Selic a 15%

Ata da reunião do Banco Central revela preocupação com expectativas desancoradas e ausência de políticas fiscais críveis

Fachada do Banco Central -  Foto: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil
Fachada do Banco Central - Foto: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

Na esteira da decisão que elevou a taxa Selic para 15% ao ano — maior patamar desde julho de 2006 —, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou nesta terça-feira (24) a ata da reunião que embasou a escolha.

Foi a sétima alta consecutiva dos juros básicos, e o documento traz, com tom técnico, os principais motivos: inflação ainda persistente, expectativas desancoradas e uma atividade econômica mais aquecida que o desejável.

Segundo o Comitê, a inflação segue pressionada principalmente pelo setor de serviços, e os chamados núcleos — que excluem itens mais voláteis — continuam elevados há meses.

Apesar de alguma desaceleração nos rendimentos, o consumo das famílias segue robusto, sustentado por um mercado de trabalho ainda aquecido.

“Os vetores inflacionários seguem adversos, como resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, expectativas de inflação desancoradas e projeções de inflação elevadas”, diz a ata.

Expectativas fora do alvo

De acordo com o Banco Central, as projeções para o IPCA estão acima da meta para os dois próximos anos. A previsão é de 4,9% para 2025 e 3,6% em 2026. O centro da meta inflacionária, no entanto, é de 3% ao ano.

O Comitê alertou que, com a inflação projetada e percebida fora do eixo, o caminho da desinflação se torna mais custoso e exige uma política monetária mais restritiva por um período prolongado.

Esse descolamento das expectativas, chamado de “desancoragem”, foi apontado como um dos principais pontos de desconforto. Segundo o Copom, esse ambiente exige juros mais altos “do que outrora seria apropriado”.

Sinal amarelo para o lado fiscal

Ainda que de forma sutil, o documento também lança luz sobre a política fiscal do governo federal. O Copom voltou a destacar que a ausência de reformas estruturais, o aumento de gastos e a incerteza quanto à estabilização da dívida pública podem elevar a chamada “taxa de juros neutra” — conceito que define o nível de juros em que a economia cresce sem pressionar a inflação.

“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal […] tem o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, aponta a ata, sinalizando preocupação com a trajetória das contas públicas.

A crítica, ainda que velada, reforça o alerta de que a política monetária perde eficácia quando não há harmonia com a condução fiscal. Sem equilíbrio nas finanças públicas, o Banco Central vê riscos adicionais à estabilidade de preços.

Próximos passos

Apesar da nova alta, o Comitê sinalizou que poderá interromper o ciclo de elevação para avaliar os efeitos defasados das medidas já adotadas. Mesmo assim, reforça que a taxa de juros permanecerá em nível contracionista “por período bastante prolongado”, até que haja maior segurança de que a inflação caminhe de forma sustentável para a meta.

“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante […] e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”