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ENTREVISTA

Crise no setor lácteo faz indústrias operarem com um terço da capacidade em MS

Presidente do Silems, Abrão Giuseppe Belluzi, cobra revisão tributária e prioridade para produtos locais nas compras públicas para frear queda na produção e fechamento de laticínios

Produção estadual, que em 2010 somava cerca de 500 milhões de litros de leite por ano, caiu para 270 milhões em 2024 - Foto: Reprodução/Governo de MS
Produção estadual, que em 2010 somava cerca de 500 milhões de litros de leite por ano, caiu para 270 milhões em 2024 - Foto: Reprodução/Governo de MS

O setor de laticínios em Mato Grosso do Sul atravessa uma das maiores crises das últimas décadas. A produção estadual, que em 2010 somava cerca de 500 milhões de litros de leite por ano, caiu para 270 milhões em 2024, segundo dados apresentados pelo Sindicato das Indústrias de Laticínios de Mato Grosso do Sul (Silems).

Abraão Giuseppe nos estúdios da Massa FM Campo Grande – Foto: Adriano Hany/Portal RCN67

A retração impacta diretamente as indústrias e os cerca de 20 mil produtores que dependem do leite como principal fonte de renda.

Em entrevista ao programa Agro é Massa, da Massa FM Campo Grande, o presidente do Silems, Abraão Giuseppe Belluzi, destacou que o número de indústrias operantes despencou de 75 para aproximadamente um terço desse total, e nenhuma delas utiliza hoje a plena capacidade produtiva.

“Não existe indústria em Mato Grosso do Sul operando com 100% da sua planta. A produção caiu no campo, e a indústria também está limitada. O cenário é preocupante”, afirmou.

Mercado interno enfraquecido

Mesmo com a redução na produção local, o consumo de leite e derivados em Mato Grosso do Sul aumentou. De acordo com o dirigente, o crescimento populacional de cerca de 62 mil habitantes entre 2021 e 2024 ampliou a demanda por aproximadamente 200 mil litros mensais de lácteos.

“Existe mercado, existe consumo. Só em 2024, Mato Grosso do Sul recebeu de outros estados cerca de 180 milhões de litros de leite UHT e 86 milhões em queijo mussarela. Ou seja, o leite está sendo industrializado fora e vendido aqui dentro”, criticou.

Belluzi ressalta que a crise começou com a queda de produção no campo, mas agora atinge também as indústrias, que enfrentam dificuldades para remunerar os produtores de forma justa.

Competitividade e desigualdade tributária

O presidente do Silems aponta que a concorrência desleal com estados como Paraná e São Paulo é um dos principais fatores da crise. Enquanto o Paraná concede isenção de ICMS para produtos como queijos e requeijões, o setor sul-mato-grossense segue arcando com a carga tributária integral.

“Como um laticínio daqui vai competir pagando tributo com um do Paraná que vem isento? Não há como. O mercado sul-mato-grossense está dominado por produtos de fora”, observou.

Pedidos ao governo estadual

Para enfrentar o colapso do setor, o sindicato protocolou um documento junto à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e pediu uma reunião com o governador Eduardo Riedel (PP). Três medidas prioritárias foram apresentadas:

  1. Revisão da carga tributária sobre produtos vindos de outros estados;
  2. Retirada das indústrias de laticínios do regime de substituição tributária do ICMS;
  3. Prioridade para produtos industrializados em Mato Grosso do Sul nas compras públicas estaduais, especialmente nas redes de ensino e hospitais.

“Qual o sentido de escolas e hospitais públicos comprarem leite de fora? É preciso valorizar e fortalecer quem produz e industrializa aqui dentro. Isso é bom para o produtor, para a indústria e para o próprio governo, que arrecada mais”, argumentou Belluzi.

O leite como sustento e permanência no campo

Além dos impactos econômicos, o dirigente reforçou o papel social do leite na fixação do homem no campo.

“O pequeno produtor vive do leite. É o pagamento mensal que garante o sustento e mantém as famílias no campo. A soja e o milho pagam uma ou duas vezes por ano, o leite paga todo mês”, destacou.

Apesar do cenário crítico, Belluzi mantém otimismo e acredita que o governo estadual atenderá às demandas do setor.

“Tenho certeza que o governo vai olhar com sensibilidade para esses pleitos. O leite é fundamental para a economia e para a vida de milhares de famílias”, concluiu

Confira a entrevista na íntegra: