Veículos de Comunicação

ENTREVISTA

Delegada alerta para avanço de crimes sexuais contra crianças e adolescentes dentro de casa e nas redes

Nelly Macedo explicou ações da DEPCA, detalhou sinais de abuso e reforçou o papel dos pais na proteção digital dos filhos

Delegada Nelly Macedo nos estúdios da Massa FM Campo Grande - Foto: Luiz Gustavo Soares/Portal RCN67
Delegada Nelly Macedo nos estúdios da Massa FM Campo Grande - Foto: Luiz Gustavo Soares/Portal RCN67

Durante participação no programa Microfone Aberto desta sexta-feira (16), a delegada Nelly Macedo, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), trouxe à tona dados alarmantes e reflexões importantes sobre o combate ao abuso e à exploração sexual infanto-juvenil em Mato Grosso do Sul.

A entrevista foi ao ar pela Massa FM Campo Grande no contexto do Maio Laranja — mês dedicado à intensificação das ações de conscientização e enfrentamento a esses crimes.

Segundo a delegada, o estado lidera o ranking nacional de estupros de vulneráveis, com uma taxa de 297 casos para cada 100 mil habitantes em 2023, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Apesar dos números elevados, Nelly destacou que parte dessa estatística reflete o fortalecimento das estruturas de denúncia e investigação.

“São dados alarmantes, sim. Mas também mostram que estamos conseguindo alcançar mais vítimas e quebrar o silêncio por meio de campanhas, ações conjuntas com outras instituições e investigações permanentes”, afirmou.

Operações e denúncias

A delegada detalhou o trabalho da DEPCA, que conta com o núcleo de combate à pornografia infanto-juvenil e realiza investigações e ações ao longo de todo o ano. Durante o mês de maio, essas iniciativas são intensificadas por meio da Operação Sentinela.

Até a metade do mês, já foram cumpridos mais de 11 mandados de prisão e dezenas de mandados de busca e apreensão.

Mais de 70 denúncias anônimas recebidas pelo Disque 100 foram apuradas apenas nos primeiros quinze dias de maio, e todas as crianças citadas nos relatos passaram por escuta especializada.

A delegada destacou também a importância das palestras em escolas e da distribuição de cartilhas digitais voltadas à proteção infantil no ambiente virtual.

“Hoje, o celular é a porta de entrada do criminoso dentro da casa das famílias. Muitos pais acreditam que o filho está seguro por estar no próprio quarto, quando na verdade ele pode estar sendo vítima de chantagem, exposição e abuso online”, alertou.

Abuso dentro de casa e sinais de alerta

A delegada enfatizou que os abusadores, na maioria das vezes, não apresentam o “perfil do agressor” e frequentemente são pessoas próximas à vítima — familiares, amigos ou pessoas de confiança da criança e da família.

Por isso, segundo ela, é fundamental que pais e responsáveis estejam atentos a mudanças de comportamento.

Entre os sinais mais comuns de abuso estão:

  • Isolamento social;
  • Agressividade;
  • Depressão;
  • Transtornos do sono;
  • Regressão comportamental, como voltar a urinar na cama;
  • Automutilação e tentativas de suicídio na adolescência.

“É essencial validar o sentimento da criança e manter um canal de diálogo aberto. Muitas vezes, os traumas não são percebidos na infância e resultam em adolescentes com depressão e ideação suicida”, pontuou.

Rede de apoio e sigilo

Nelly reforçou que tanto a delegacia quanto os demais órgãos que compõem a rede de proteção à infância atuam com rigor, mas também com discrição. Ela incentivou que familiares não tenham receio de denunciar por medo de expor alguém próximo, destacando que toda denúncia é investigada com cautela e sigilo.

“Temos equipe multiprofissional, usamos escuta especializada e conduzimos as investigações com total cuidado. Mas é preciso que os responsáveis confiem nos filhos, acreditem neles e busquem ajuda”, concluiu.

Confira a entrevista na íntegra: