Durante participação no programa Microfone Aberto desta sexta-feira (16), a delegada Nelly Macedo, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), trouxe à tona dados alarmantes e reflexões importantes sobre o combate ao abuso e à exploração sexual infanto-juvenil em Mato Grosso do Sul.
A entrevista foi ao ar pela Massa FM Campo Grande no contexto do Maio Laranja — mês dedicado à intensificação das ações de conscientização e enfrentamento a esses crimes.
Segundo a delegada, o estado lidera o ranking nacional de estupros de vulneráveis, com uma taxa de 297 casos para cada 100 mil habitantes em 2023, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Apesar dos números elevados, Nelly destacou que parte dessa estatística reflete o fortalecimento das estruturas de denúncia e investigação.
“São dados alarmantes, sim. Mas também mostram que estamos conseguindo alcançar mais vítimas e quebrar o silêncio por meio de campanhas, ações conjuntas com outras instituições e investigações permanentes”, afirmou.
Operações e denúncias
A delegada detalhou o trabalho da DEPCA, que conta com o núcleo de combate à pornografia infanto-juvenil e realiza investigações e ações ao longo de todo o ano. Durante o mês de maio, essas iniciativas são intensificadas por meio da Operação Sentinela.
Até a metade do mês, já foram cumpridos mais de 11 mandados de prisão e dezenas de mandados de busca e apreensão.
Mais de 70 denúncias anônimas recebidas pelo Disque 100 foram apuradas apenas nos primeiros quinze dias de maio, e todas as crianças citadas nos relatos passaram por escuta especializada.
A delegada destacou também a importância das palestras em escolas e da distribuição de cartilhas digitais voltadas à proteção infantil no ambiente virtual.
“Hoje, o celular é a porta de entrada do criminoso dentro da casa das famílias. Muitos pais acreditam que o filho está seguro por estar no próprio quarto, quando na verdade ele pode estar sendo vítima de chantagem, exposição e abuso online”, alertou.
Abuso dentro de casa e sinais de alerta
A delegada enfatizou que os abusadores, na maioria das vezes, não apresentam o “perfil do agressor” e frequentemente são pessoas próximas à vítima — familiares, amigos ou pessoas de confiança da criança e da família.
Por isso, segundo ela, é fundamental que pais e responsáveis estejam atentos a mudanças de comportamento.
Entre os sinais mais comuns de abuso estão:
- Isolamento social;
- Agressividade;
- Depressão;
- Transtornos do sono;
- Regressão comportamental, como voltar a urinar na cama;
- Automutilação e tentativas de suicídio na adolescência.
“É essencial validar o sentimento da criança e manter um canal de diálogo aberto. Muitas vezes, os traumas não são percebidos na infância e resultam em adolescentes com depressão e ideação suicida”, pontuou.
Rede de apoio e sigilo
Nelly reforçou que tanto a delegacia quanto os demais órgãos que compõem a rede de proteção à infância atuam com rigor, mas também com discrição. Ela incentivou que familiares não tenham receio de denunciar por medo de expor alguém próximo, destacando que toda denúncia é investigada com cautela e sigilo.
“Temos equipe multiprofissional, usamos escuta especializada e conduzimos as investigações com total cuidado. Mas é preciso que os responsáveis confiem nos filhos, acreditem neles e busquem ajuda”, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra: