As mudanças climáticas e seus efeitos sobre o Pantanal voltaram ao centro das discussões em Corumbá, na quinta-feira (12), durante a terceira edição do Diálogos pelo Clima.
O evento reuniu pesquisadores, representantes do setor produtivo e lideranças locais para debater desafios como seca, incêndios e desmatamento, além da necessidade de integrar ciência, políticas públicas e práticas do campo na resposta à crise ambiental.
A abertura foi marcada por uma apresentação artística com elementos da cultura regional. Na sequência, palestras e painéis técnicos abordaram a importância de preparar o Pantanal — um dos biomas mais preservados do mundo — para os impactos extremos do clima e garantir sua resiliência ambiental, econômica e social.
Agricultura e ciência como resposta à crise
Durante o evento, a diretora da Embrapa, Ana Euler, defendeu que o Brasil deve apresentar soluções concretas na próxima COP30, marcada para novembro de 2025, em Belém.
Segundo ela, o Pantanal pode contribuir com exemplos como o programa Fazenda Pantaneira Sustentável, que reúne indicadores socioambientais para certificar a carne produzida na região.
“Falamos sobre sustentabilidade há tempos, portanto, é o momento de apresentar as soluções tecnológicas que temos em cada bioma, quais são os desafios e as soluções que devem vir dos territórios”, disse Ana.
Euler também citou iniciativas como a Indicação Geográfica do mel pantaneiro e o papel do turismo e da pesca como alternativas sustentáveis de desenvolvimento. Ela anunciou ainda que mais de 140 tecnologias agroambientais desenvolvidas no país serão levadas à COP30 como parte da proposta da chamada “Agrizone”.
“Temos muito a dizer e também enfrentar os desafios que estão postos. Secas, enchentes, incêndios geram muita insegurança e perdas para o setor e para o bioma, mas também temos soluções”, completou.
Já o secretário-adjunto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Artur Falcete, reforçou: “É importante lembrar que temos de trazer a ciência para discussão dos dados. Lembrar também que estamos falando de um dos biomas mais preservados do mundo e que temos uma dívida com o pantaneiro, com o produtor rural, com as comunidades tradicionais e originárias”.
“Desmatamento zero é possível”, diz Eduardo Assad
Especialista em mudanças do clima, o pesquisador Eduardo Assad foi o responsável pela palestra de abertura. Ele defendeu que o Brasil pode manter sua produção agropecuária sem ampliar o desmatamento, desde que invista na recuperação de pastagens degradadas.
“O Pantanal é resiliente, registrou o maior nível de desmatamento em 2013 e se recuperou. Porém, não podemos permitir que o desmatamento continue, pois os atuais 3% de desmatamento são inaceitáveis. Somos capazes de fazer uma agricultura equilibrada, sem desmatar, basta recuperarmos os pastos degradados”, afirmou.
Assad também alertou para os efeitos do aquecimento global: “O ano de 2024 foi o mais quente do século, inclusive com o aumento da temperatura do oceano subindo, o que impactou nas chuvas torrenciais e desastres como o que aconteceu no Rio Grande do Sul”.
“Se não conseguirmos reduzir os impactos, o produtor começará a ter problemas com o financiamento do seguro rural”, acrescentou.
Seca persiste e risco de incêndios preocupa
A cientista Regla Duthit Somoza, do Cemaden, destacou que apesar das chuvas recentes, o Pantanal segue em condição de déficit hídrico. Segundo ela, três municípios da região estão em alerta para queimadas nos próximos três meses.
“Vamos trabalhar juntos para a defesa do Pantanal. É dever de todos do bioma cuidar e defendê-lo. Precisamos nos adaptar às mudanças, mas também minimizar os impactos”, disse.
“Nossa proposta é trabalhar em rede envolvendo empresários, produtores, estudantes e o poder público”.
Pantanal exige políticas adaptadas às suas múltiplas paisagens
O diretor-executivo do Instituto Taquari Vivo, Renato Roscoe, ressaltou que o Pantanal é um bioma de paisagens diversas, com diferentes dinâmicas hidrológicas e ecológicas, o que exige políticas públicas flexíveis e sensíveis às realidades locais.
“Muitas vezes nós vamos ser eficientes em um pedaço do Pantanal, mas muito ineficiente em outro pedaço”, avaliou.
Para ele, o que acontece no Pantanal são ciclos: “Não adianta fazer um grande alarme porque de 1985 até 2023 a quantidade de água no bioma reduziu, pois isso já aconteceu antes. O que nós temos que entender é que neste momento estamos lidando com um pantanal seco, mas daqui a pouco nós vamos ter que saber também como lidar com um pantanal cheio porque vai encher de novo”.
“E a ciência pode nos ajudar para um Pantanal sustentável e resiliente, diante das mudanças climáticas”, concluiu Roscoe.
*Com informações da Embrapa