A ausência de revisão do Plano Diretor de Arborização Urbana (Pedau), previsto em lei desde 2011, levanta questionamentos sobre a prioridade da pauta ambiental em Campo Grande. O documento, que deveria ter sido atualizado em 2019, segue sem conclusão. Além disso, não possui instrumentos efetivos de aplicação, deixando a política de arborização sem respaldo concreto.
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), por meio da 42ª Promotoria de Justiça, instaurou inquérito civil para apurar o descumprimento da legislação. A investigação cobra do município a efetiva implementação de ações como a criação de viveiro de mudas. Além disso, exige fiscalização contínua, plano de manejo e campanhas de educação ambiental. Apesar de compromissos assumidos anteriormente, nada foi entregue de forma conclusiva à sociedade.
Impactos para a população
A falta de planejamento afeta diretamente a qualidade de vida urbana. Sem um programa estruturado, a capital enfrenta ilhas de calor cada vez mais intensas, perda de áreas verdes e maior vulnerabilidade diante das mudanças climáticas. A arborização urbana, deve ser tratada como parte da saúde pública e da sustentabilidade.
A promotora Andréia Cristina Peres da Silva alertou que a omissão compromete o conforto térmico, a saúde coletiva e a qualidade ambiental da cidade. Segundo ela, o município precisa assumir responsabilidades e dar transparência às medidas adotadas.
Contexto nacional e cobrança de resultados
A atuação do MPMS coincide com o lançamento do Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU), apresentado pelo Governo Federal em 2025, que busca orientar os municípios na criação e revisão de seus planos. Campo Grande, entretanto, ainda não conseguiu alinhar suas ações às diretrizes nacionais. Esse atraso compromete políticas locais de sustentabilidade.
O MPMS notificou a Procuradoria-Geral do Município para apresentar resposta em até 10 dias úteis. Caso não haja avanços concretos, medidas judiciais ou extrajudiciais poderão ser adotadas.
Sobre o paradoxo com premiação seis vezes consecutivas
É no mínimo paradoxal que Campo Grande seja reconhecida, pelo sexto ano consecutivo, como uma das cidades mais arborizadas do mundo, mesmo sem a revisão seu Plano Diretor de Arborização Urbana desde 2019.
A chancela da FAO e da Fundação Arbor Day sugere um comprometimento com a política ambiental. O título traz prestígio, mas expõe uma contradição: Como é possível que o plano diretor não esteja atualizado e orgãos internacionais reconheçam a qualidade de vida na Capital?
O questionamento é inevitável: até que ponto a certificação internacional avalia resultados práticos da arborização urbana e até que ponto isso depende da atualização do plano diretor? A premiação pode até colocar Campo Grande em posição de destaque, mas não elimina a necessidade urgente de sair do papel e transformar metas em ações consistentes e contínuas.