Campo Grande foi escolhida como uma das capitais brasileiras para sediar o debate público sobre o futuro do país. Nesta quarta-feira (18), a Câmara Municipal recebeu o fórum participativo “Diálogos para Construção da Estratégia Brasil 2050”, etapa final do processo de escuta promovido pelo governo federal para formular um plano nacional de longo prazo.
Entre os temas abordados estiveram a importância do Corredor Bioceânico, os desafios da segurança alimentar, a necessidade de inclusão social, transição energética, o papel da juventude e a urgência de planejamento estruturado e participativo.
A proposta é reunir todas as contribuições da sociedade civil em um documento orientador, que será entregue à ONU durante a COP30, em Belém (PA), no fim do ano.
“A pergunta é: que país queremos ser até 2035? Essa estratégia será uma carta náutica construída pela sociedade brasileira com indicadores, metas e cenários. Não será um documento de governo, mas de Estado”, afirmou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
Rota Bioceânica e o atraso de décadas
A ministra, que é sul-mato-grossense, usou o Corredor Bioceânico como exemplo da ausência de cultura de planejamento no Brasil. Segundo ela, se houvesse visão estratégica no passado, o corredor ligando o Atlântico ao Pacífico via Mato Grosso do Sul, Paraguai, Argentina e Chile já estaria em operação.
“Essa rota bioceânica já estaria pronta no início dos anos 2000, e não só em 2026. Sem a rota cortando e rasgando o Mato Grosso do Sul, não há futuro pro agronegócio brasileiro”, afirmou Tebet.
“A gente perdeu tempo e competitividade por falta de planejamento. E isso vale para o país como um todo.”
Campo Grande como palco do debate nacional
O presidente da Câmara de Vereadores, Epaminondas Neto, o Papy (PSDB), destacou a importância de levar um debate complexo como esse à população, com foco na participação popular.
“A Câmara tem a responsabilidade de popularizar um debate que muitas vezes fica distante da população. O planejamento não pode vir só de dentro de gabinetes, mas também das pessoas”, disse.
Papy também lembrou que a Casa atua no planejamento municipal e que o fórum serve de exemplo para subsidiar decisões com base em demandas reais da sociedade.
Segurança alimentar e transição energética
O governador Eduardo Riedel (PSDB) destacou que o Mato Grosso do Sul já se posiciona estrategicamente em dois temas que são centrais para o futuro do planeta: transição energética e segurança alimentar.
“Estamos assistindo a guerras que têm, no fundo, essa disputa por energia e alimentos. O Brasil, e especialmente o Mato Grosso do Sul, pode oferecer soluções concretas com tecnologia, conhecimento e inovação”, afirmou.
Ele citou ainda a usina de inteligência artificial em MS como uma realidade que já integra o planejamento estadual voltado para 2030 e além.
Desigualdade, juventude e metas por décadas
Outro ponto de destaque do evento foi a discussão sobre metas para erradicação da pobreza, combate ao analfabetismo funcional e redução do número de jovens fora da escola e do trabalho.
Simone Tebet mencionou que o Brasil é um dos países com maior número de “nem-nem” no mundo e que o planejamento precisa incluir metas realistas e progressivas:
“Não vamos zerar o déficit habitacional da noite pro dia. Mas podemos reduzir. Vamos pensar: quantos milhões hoje? O que é possível atingir em 2030, 2035, 2040 e assim por diante?”, questionou.
A ministra também defendeu que indicadores sejam formulados com base em evidências, estudos técnicos e bancos de dados como os do IBGE e do IPEA. “Não é a vontade do ministro, do presidente da Câmara ou do governador. É a sociedade sendo ouvida e os técnicos traduzindo isso em projetos estruturantes.”
Documento final será entregue na COP30
A secretária nacional de Planejamento, Virgínia de Ângelis, explicou que todas as sugestões colhidas pelo país serão sistematizadas com o apoio de especialistas, universidades e bancos multilaterais, como o BID.
“Quando o planejamento está socialmente enraizado, as chances de que ele tenha continuidade são maiores. Esse documento será uma bússola, com metas e indicadores, para orientar o governo federal, os estados e os municípios”, explicou.
A Estratégia Brasil 2050 não terá força de lei, mas pretende se consolidar como um referencial para políticas públicas, parcerias com o setor privado e decisões de longo prazo.