Em um tempo em que as taxas de desemprego chegam a bater recordes, quase 40% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos não trabalham e nem estudam. Um a cada três jovens se enquadra nessa estatística, segundo o relatório da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eles são os famosos Nem-Nem. Jovens que ingressaram no ensino superior e não conseguiram concluir a graduação também fazem parte da estatística.
O deputado distrital Israel Batista (PV), em entrevista para o site do Senado Federal, diz que esses jovens deveriam ser classificados como “Sem-Sem”, pois estão sem oportunidade e sem acesso a estudo gratuito e de qualidade. Nem todos os jovens que se enquadram na geração Nem-Nem são filhos mimados, mas pessoas que precisam de oportunidade.
As principais dificuldades apontadas pelos jovens para arranjar um emprego são os pré-requisitos estabelecidos pelas empresas, que pedem experiência prévia na área, mas muitos ainda estão procurando o primeiro emprego. Além disso, a dificuldade para concluir os estudos pesa bastante na hora de abandonar ou continuar a graduação. Ou seja, boa parte desses jovens não se enquadra na geração Nem-Nem por escolha própria, mas pelos empecilhos de arranjar um emprego e/ou obter um diploma. Ante isso, muitos jovens ainda enfrentam problemas para definir em qual área desejam trabalhar e a falta de orientação nas escolas e universidades só agrava o problema.
O crescimento dessa mão de obra parada se dá num cenário em que muitas portas de emprego se fecharam, a renda diminuiu, a inflação fechou na maior alta dos últimos 18 anos e, consequentemente, os jovens e suas famílias não conseguiram mais custear os estudos. Segundo o economista Eduardo José Mattos, a pandemia de Covid-19 só intensificou um cenário que já era previsto. Pouco se fez nos últimos quatro, cinco anos para mudar a estrutura educacional do país. Uma das saídas é a renovação da matriz educacional. “O mercado de trabalho evoluiu e as bases da educação devem ser atualizadas. É uma relação de oferta e demanda básica”, coloca Mattos
A reforma do ensino médio foi elaborada com o intuito de modernizar a educação brasileira. Implantada no início de 2017, ela prevê alterações nas diretrizes e bases da educação e estabelece mais competências, além de habilidades para as áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Contudo, a dificuldade para implementação da reforma e a necessidade de adaptação são denominadores comuns. Segundo o economista, o tempo e a qualidade desse estudo é o que deve ser pensado. O que está sendo oferecido está melhorando ou apenas reforçando aquela grade antiga? Essa nova matriz está realmente melhorando a inserção desse jovem em uma ocupação?
Esses jovens parados, para o mercado de trabalho, é muito ruim, pois é uma geração que num futuro próximo deveria ocupar cargos de liderança. O processo de renovação do mercado é algo que acontece inevitavelmente e os avanços das tecnologias e o dinamismo cada vez mais presente nas relações de trabalho exigem que as bases educacionais sejam atualizadas.
Segundo o relatório apresentado pela OCDE, essas estatísticas oferecem um vislumbre do futuro. Os dados mostram que o nível de aprendizagem desses jovens e como eles chegam a vida profissional, ajudam a prever o crescimento e a geração de riquezas de um país. Jovens que deveriam estudar ou trabalhar, estão parados. Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigindo experiência, começamos a enxergar o setor privado como o malvado da história, mas não é bem assim. É preciso saber conciliar a base educacional e o mercado de trabalho, até porque nem todos que estão nessa situação a fazem por escolha, mas por causalidade e entender que é necessário trazer esse jovem para uma educação melhorada, oferecer a esses futuros profissionais meios para que eles se insiram nesse mercado da melhor forma.