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ENTREVISTA

Mais de 1.300 crianças aguardam consulta ortopédica no SUS em MS, diz especialista

Em entrevista à Massa FM, médica aponta atraso de até dois anos por consulta e destaca sinais que pais devem observar nas crianças

Marina Juliana nos estúdios da Massa FM Campo Grande - Foto: Luiz Gustavo Soares/Portal RCN67
Marina Juliana nos estúdios da Massa FM Campo Grande - Foto: Luiz Gustavo Soares/Portal RCN67

Mais de 1.300 crianças aguardam uma consulta ortopédica pelo SUS em Mato Grosso do Sul, com tempo médio de espera entre 18 e 24 meses. O dado foi revelado pela ortopedista pediátrica Marina Juliana Figueiredo durante entrevista ao programa Microfone Aberto, no quadro Saúde é Massa, da Massa FM Campo Grande, nesta segunda-feira (13).

Segundo a especialista, esse atraso pode comprometer não só o desenvolvimento das crianças, como também resultar em sequelas irreversíveis — e, em casos extremos, até em morte.

“Já tivemos óbitos por atraso no diagnóstico. Doenças como a osteogênese imperfeita, por exemplo, evoluem com fraturas espontâneas. Um simples movimento pode causar hemorragia e levar a uma situação grave”, afirmou Marina.

Conhecida como “doença dos ossos de vidro”, a osteogênese é uma das condições silenciosas que podem se manifestar apenas após uma fratura.

Durante a entrevista, a médica fez um alerta aos pais e responsáveis sobre os sinais que indicam possíveis fraturas em crianças, mesmo sem hematomas visíveis. “Diferente dos adultos, a criança nem sempre consegue apontar onde dói. Às vezes, ela simplesmente para de usar o bracinho ou começa a mancar. Mudança no choro ou na movimentação deve ser observada com atenção”, explicou.

Fraturas relacionadas ao parto, especialmente na clavícula, são comuns nos primeiros dias de vida. Já na fase em que a criança começa a andar, surgem casos mais frequentes de lesões no cotovelo e outras regiões do braço.

Em idade escolar, fraturas no punho, antebraço e pé, geralmente ligadas a brincadeiras e práticas esportivas, tornam-se mais recorrentes.

Outro ponto de preocupação são as fraturas patológicas — aquelas causadas por doenças como tumores ósseos e distúrbios metabólicos, como o raquitismo. “Muitas vezes, o primeiro sinal da doença é justamente a fratura. Tumores benignos são os mais comuns, mas é preciso investigar, porque também pode ser câncer infantil”, alertou Marina.

Diante da realidade de longa espera na rede pública, a ortopedista defende medidas imediatas para minimizar os impactos. “O maior problema é que a criança cresce. O que poderia ser tratado de forma simples em um bebê, pode exigir cirurgia em uma criança maior — e, ainda assim, com risco de sequelas”, frisou.

Casos como o da displasia do quadril ilustram bem esse cenário: diagnosticada ao nascimento, tem tratamento com sucesso quase total; com dois ou três anos de atraso, o prognóstico muda drasticamente.

A médica também anunciou que o 13º Congresso TROIA – Traumatologia e Ortopedia Infantil, que ocorre entre os dias 29 e 31 de maio em Campo Grande, vai reunir profissionais de várias regiões do Brasil e do exterior para debater justamente soluções para o problema.

“O evento também será um espaço de formação. Estamos dialogando com a prefeitura e a SES para capacitar pediatras da rede pública e agilizar o diagnóstico ainda nas unidades básicas”, disse.

O congresso, que terá inclusive a aplicação da prova nacional de ortopedia pediátrica, é aberto a acadêmicos e profissionais da saúde. A programação pode ser consultada nos sites troia2025.sbop.org.br e sbop.org.br.