
A 71ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Campo Grande também escancarou o aumento da temperatura política entre vereadores e a prefeita Adriane Lopes. Durante a palavra livre, o vereador Marquinhos Trad anunciou que protocolou uma queixa-crime no Tribunal de Justiça contra a chefe do Executivo, após declarações feitas por ela nas redes sociais.
Segundo o parlamentar, a prefeita o acusou de forma “irresponsável”, sem apresentar provas, e ultrapassou os limites do debate democrático. Por isso, ele afirmou que caberá agora ao Judiciário dar oportunidade de ampla defesa e, se houver necessidade, aplicar a chamada exceção da verdade, para que Adriane comprove tudo o que disse publicamente.
Além disso, Marquinhos sustentou que quem governa uma cidade precisa agir com equilíbrio, moderação e compromisso com a verdade. Na avaliação dele, prefeitos não podem se apoiar em suposições ou frases soltas para atacar adversários, ainda mais em um cenário de forte polarização política. Assim, o recado foi direto: a Câmara não aceita ser tratada como alvo de narrativas pessoais do Executivo.
Logo depois, outro discurso tornou explícito o desconforto dentro da própria base. O vereador Carlão subiu à tribuna para avisar que pretende rever sua posição de apoio ao governo a partir de fevereiro, caso a prefeitura não mude a forma de dialogar com os mandatos. Ele cobrou atendimento mais efetivo às demandas dos bairros e reclamou da falta de espaço político para o seu partido na estrutura administrativa.
Nesse sentido, Carlão fez questão de destacar que a Câmara não é extensão do gabinete da prefeita e deve manter independência institucional, mesmo quando aprova projetos de interesse do Executivo. Ele defendeu que a base governista ajude a construir soluções, porém sem abrir mão de cobrar obras, serviços e respostas para as comunidades que elegeram os vereadores.
O clima tenso não se limitou a esses episódios. Mais cedo, o vereador Rafael Tavares (PL) usou o tempo de liderança para atacar decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, e criticar a postura dos senadores em relação à Corte. Enquanto discursava, enfrentou reações do público e da bancada de esquerda, o que levou o presidente da Casa a intervir e pedir respeito ao orador, reforçando as regras do regimento interno.
Ao mesmo tempo, o vereador Veterinário Francisco ocupou o microfone para responder a críticas feitas nas redes sociais sobre sua atuação na causa animal e na agenda de saúde única. Ele lembrou que atua há mais de 40 anos na área, afirmou que seu compromisso com políticas públicas vai muito além do “palco virtual” e mandou um recado a quem tenta disputar essa bandeira sem preparo técnico.
Em meio a esses embates, outros vereadores aproveitaram a sessão para levantar temas sensíveis, como o anúncio de fechamento da faculdade Facul, que deixa bolsistas sem saber como continuar os estudos, e o futuro pacote de asfalto para 33 bairros, defendido por Wilson Landes. Desse modo, a reunião mostrou uma Câmara que, ao mesmo tempo em que aprova projetos e homenagens, acumula conflitos com a prefeitura e se prepara para um 2026 ainda mais politizado.