A operação que resultou na prisão e entrega ao Brasil de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, apontado como chefe máximo da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), foi conduzida sob forte senso de urgência pelo governo brasileiro.
A estratégia foi clara: evitar qualquer risco de extradição prolongada e garantir que o líder da facção fosse trazido de volta antes que deixasse o radar das autoridades.
Preso na sexta-feira (16) na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, Tuta portava documentos falsos em nome de Maycon da Silva e tentava renovar sua Cédula de Identidade Estrangeira.
A identificação só foi possível graças a uma operação de biometria que cruzou dados em tempo real entre os sistemas da Polícia Federal brasileira e da Interpol. O alerta foi acionado por um oficial de ligação brasileiro em solo boliviano.
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi informado da prisão ainda na sexta-feira e determinou que o Itamaraty iniciasse de imediato uma negociação direta com o governo boliviano para evitar o trâmite judicial da extradição — que poderia se estender por meses.
A alternativa escolhida foi a expulsão imediata, um mecanismo legal menos burocrático e mais ágil.
“Dada a periculosidade do delinquente e o risco real de fuga, mesmo sob custódia, optou-se pela expulsão”, afirmou Lewandowski em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (20).
Entrega ocorreu em Corumbá, com logística montada às pressas
A entrega de Tuta ao Brasil ocorreu no domingo (18), na cidade de Corumbá, onde a Polícia Federal o recebeu oficialmente após a finalização dos trâmites locais com as autoridades bolivianas.
A logística da transferência foi organizada em menos de 48 horas, incluindo o deslocamento de uma aeronave da PF até a fronteira.
De Corumbá, Tuta foi levado diretamente à Penitenciária Federal de Brasília, onde já se encontrava o ex-líder do PCC, Marcola. Segundo a PF, o criminoso está sob Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), com monitoramento máximo e isolamento absoluto.
A qualquer momento, ele poderá ser transferido para outra unidade federal, como parte de uma estratégia de segurança que busca impedir qualquer articulação interna entre lideranças da facção.
PCC em reorganização e risco de infiltração política
A prisão de Tuta é considerada um movimento importante no enfrentamento à reestruturação do PCC. O grupo, que atua em pelo menos seis países da América do Sul, tem ampliado suas frentes de atuação para além do tráfico de drogas, como lavagem de dinheiro e controle de territórios.
Investigadores apontam que Tuta coordenava rotas internacionais de entorpecentes e mantinha influência direta sobre células da facção fora do país.
Durante a coletiva, o governo federal também admitiu preocupação com a tentativa de infiltração política por parte de grupos criminosos. Em 2022, candidatos ligados a facções chegaram a disputar cargos em eleições municipais.
Segundo Lewandowski, o Ministério da Justiça, a Justiça Eleitoral e os partidos foram alertados e ações de triagem foram intensificadas desde então.
“Estamos atentos à infiltração de facções na política, especialmente em municípios pequenos. Isso será monitorado com rigor nas próximas eleições”, garantiu o ministro.
Reunião com países vizinhos discutirá ações conjuntas
Ainda nesta semana, representantes da Interpol e chefes de polícia da América do Sul estarão reunidos em Brasília para discutir estratégias de combate ao crime organizado transnacional.
A expectativa é criar um plano conjunto de vigilância nas fronteiras e compartilhamento em tempo real de dados biométricos e de inteligência.