A vida e a obra de Lino Vilachá, símbolo de resiliência, espiritualidade e expressão literária em Mato Grosso do Sul, serão o foco do próximo encontro do projeto Leituras e Conversas, promovido pela Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL).
O evento será nesta quinta-feira (08), às 19h30, no auditório da entidade, com entrada gratuita.
Coordenado pelas imortais Lenilde Ramos, Maria Adélia Menegazzo e Sylvia Cesco, o ciclo de leituras homenageia neste mês um autor regional, após abordagens anteriores dedicadas a nomes nacionais e estrangeiros.
A programação contará ainda com a participação especial da escritora e também imortal Raquel Naveira, que dividirá reflexões sobre a obra de Vilachá com as organizadoras.
Quem foi Lino Vilachá
Lino Vilachá (1938–1994) construiu uma trajetória literária profundamente marcada por sua vivência no Hospital São Julião, onde foi internado devido à hanseníase.
Mesmo enfrentando severas limitações físicas — amputações, atrofias, quase cegueira e surdez —, ele se manteve intelectualmente ativo, datilografando com lápis presos às mãos e lendo com auxílio de uma lupa. Suas poesias e crônicas são permeadas por temas como dor, fé, amor, exclusão e resiliência.
Lino usava a poesia para romper o preconceito que marcava a sociedade da época, quando o portador da hanseníase era estigmatizado como “leproso”. De acordo com o presidente da ASL, Henrique de Medeiros, a escolha do nome de Vilachá reforça o compromisso da Academia em valorizar vozes que expressam a condição humana em toda sua complexidade.
“Sua obra nos convida a enxergar beleza e sentido mesmo diante das maiores adversidades”, afirma Medeiros.
Vilachá publicou cinco livros — reunidos na coletânea Lino Para Sempre —, entre eles Minhas Flores de Flamboyant e Conversando com Deus e os Amigos. Também atuou como cronista, organizador cultural e mestre de cerimônias em eventos significativos, como a recepção ao Papa João Paulo II em 1991. Sua produção teve, inclusive, repercussão internacional, com obras publicadas na Itália.
A escritora Lenilde Ramos, que conviveu com Vilachá em projetos no Hospital São Julião, por mais de duas décadas, destaca que a leitura de sua obra é um gesto de “justo reconhecimento a um homem que traduziu em palavras a esperança, a espiritualidade e a perseverança”.
A história de vida por trás da poesia
Lino Vilachá era filho de um espanhol da pequena Villa Chá, na Galícia, e de uma jovem russa, que migraram para o Brasil e se instalaram como colonos em Terenos (MS).
Aos 12 anos, Lino foi diagnosticado com hanseníase, assim como os pais e três dos cinco irmãos. No ano de 1951, todos foram encaminhados à antiga Colônia São Julião, que isolava os doentes por determinação legal.
Nesse ambiente de confinamento compulsório e poucos recursos, Lino cresceu rodeado por personagens singulares que moldaram seu olhar poético — figuras como “Seu Botto”, que foi seu professor, além de Maria, Estanislão e Feliciana tornaram-se parte de seu repertório como cronista da vida no hospital.
A década de 1970 marcou a virada institucional do espaço: a colônia transformou-se em hospital de referência nacional com a criação da Associação de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos.
Lino continuou morando em uma das casas dentro do complexo do Hospital São Julião e foi um dos protagonistas dessa mudança. Fundou a liga esportiva, organizou campeonatos de futebol e festividades que integravam os internos. Mesmo diante das graves consequências da doença — perda das pernas, atrofia das mãos, comprometimento auditivo e visual — manteve-se atuante e criativo.
Além de poeta e cronista, foi diretor da escola interna do hospital e atuou como servidor administrativo, escrevendo relatórios e estatísticas. Escrevia com lápis amarrados às mãos para produzir textos e poemas. Publicou seus livros, com edições no Brasil e na Itália, e tornou-se referência não apenas literária, mas humana.
Em 1991, quando o Papa João Paulo II visitou o hospital, Lino foi escolhido para fazer uma saudação em nome de todos os pacientes.
Quatro anos antes, em 1987, casou-se com Zena Maria, enfermeira que conheceu por meio da poesia. O casal viveu junto até a morte de Lino, em julho de 1994. Ele foi enterrado no Hospital São Julião, entre árvores, como havia pedido.
Em sua homenagem, uma escola no bairro Nova Lima e a rua de acesso ao hospital levam seu nome.
Serviço
Leituras e Conversas – “Poeta Lino Vilachá”
Data: 08 de maio de 2025 (quinta-feira)
Horário: 19h30
Local: Auditório da ASL – Rua 14 de Julho, nº 4653 (Altos do São Francisco)
Entrada gratuita | Evento presencial | Traje esporte