Nem todo policial anda fardado pelas ruas de Três Lagoas. Sem distintivos, homens se misturam aos civis comuns e assim conseguem desmantelar quadrilhas, “estourar” bocas de fumos e prevenir assaltos. São homens sem nomes, sem endereço, sem família, mas que são considerados peças fundamentais no combate ao crime organizado.
Eles fazem parte do chamado Serviço de Inteligência. Eles vão fundo na investigação. Análise de estatísticas da onda da violência, recebimento de denúncias anônimas e simples ocorrências policiais. Tudo serve de base para eles monitorarem passo a passo às atividades dos criminosos.
Em Três Lagoas, assim como em todo o estado de Mato Grosso do Sul, o “policial que ninguém vê” faz parte do quadro efetivo tanto da Polícia Militar quanto da Polícia Civil. Apesar do trabalho essencial dos policiais militares ser preventivo e repressivo, eles também contam com profissionais voltados a área de inteligência, para colaborar com o trabalho de investigação da Polícia Civil.
“Cabe à nossa equipe reservada dar o suporte à nossa ação preventiva, ela descobre onde há os maiores problemas para os nossos homens fardados realizarem as ações”, afirmou o subcomandante da Polícia Militar, Major Wilson Monari. Revelou ainda que sua equipe sem farda deve monitorar roubos, furtos e tráfico de entorpecentes, em seguida, baseados em dados de locais com o maior número de ocorrências o serviço “dá munição” para a polícia de farda trabalhar nas ruas.
Os serviço reservado da PM é denominado P2 e segundo o major, a implantação desse serviço tem rendido bons resultados para combater a onda de violência em Três Lagoas.
A Polícia Civil não usa farda, no entanto também conta com um serviço que se baseia em dados estatísticos para atuar. Em várias ocasiões esses agentes se camuflam como pessoas comuns para conseguir acionar diante de um determinado feito criminoso. A Polícia Civil, diferentemente da Polícia Militar, tem a incumbência de investigar.
O Serviço de Inteligência da Polícia Civil tem como base a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) que usa os artifícios estatísticos para definirem suas ações. “A DIG é o nosso alicerce na investigação. Todo crime com autoria desconhecida encaminhamos diretamente para estes agentes solucionarem”, afirmou o delegado regional da polícia civil, Vítor José Fernandes Lopes.
Segundo o delegado, o correto seria todas delegacias realizarem investigações, no entanto o efetivo deficitário sobrecarrega os homens da DIG, que essencialmente deveriam ser apenas um apoio para dos Distritos Policiais (1º, 2º e 3º) do município. Além de Três Lagoas os agentes da DIG ainda apóiam ações em Água Clara, Brasilândia, Santas Rita do Rio Pardo e Selvíria.
Agente já chegou a ficar 24 horas no meio do mato
O Jornal do Povo conversou com um desses policiais sem farda, que atuam na Delegacia Delegacia de Investigações Gerais (DIG). Segundo ele o correto na linha investigativa e inteligente é não ocorrer troca de tiros. Todas as ações devem ser estrategicamente planejadas. “Antes de atacarmos, fazemos levantamento l do local, entrada e possíveis saídas do nosso alvo, monitorando para o flagrante”, disse.
O agente entrevistado contou que já chegou a ficar 24 horas de campana no meio do mato. A operação ocorreu numa fazenda que funcionava como oficina de desmanche de veículos. Tal campana rendeu a prisão de uma quadrilha de desmanche que atuava em Três Lagoas. Essa mesma operação também acarretou numa recorrência do Ministério Público (MP) contra a decisão do juiz em absolver pessoas consideradas “de elite” no município. Estas pessoas, na denúncia do MP, foram acusadas de emprestarem dinheiro para a quadrilha manter seus negócios de roubos e desmanche de veículos.
“Em outra ocasião fiquei das seis horas da manhã até as oito horas da noite no meio de um matagal em frente a uma residência aguardando a entrega de uma encomenda de entorpecente. Toda a ação dos traficantes foram interceptadas por nosso serviço de inteligência. Eu passava todas as coordenadas para uma viatura que estava próxima dali”, afirmou o agente relatando também experiências de companheiros que quase perderam a vida em tiroteios.
Quando questionado se a polícia “sem farda” é reconhecida nas ruas pelos bandidos ele respondeu prontamente: “bandido sempre sabe que nós somos policiais, por isso devemos manter o máximo de cuidado nas operações e mostrar qualidade no serviço por meio de estratégias inteligentes”, completou.
Rodoviária é um dos alvos do Serviço Reservado
Um dos trabalhos de destaque na mídia realizado pelo serviço reservado da Polícia Militar (PM) aconteceu no dia 26 do mês passado. O artesão Márcio Bezerra dos Santos, 26 anos, residente do bairro Vila Alegre, foi preso ao desembarcar na rodoviária de Três Lagoas, por volta das 12 horas, suspeito por tráfico de drogas. De acordo com a PM, o suspeito trazia cerca de 60 cápsulas de cocaína no estômago.
A operação teve início no dia 24, quando a PM recebeu a informação de que o suspeito viajaria, de ônibus, a Corumbá para buscar a droga. A viagem de Santos foi confirmada. “O suspeito só teria confessado tudo depois de ser encaminhado ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, onde foi submetido a exame de raio-x.
Após a constatação de “objetos estranhos” no seu estômago, Santos teria informado que havia ingerido as 60 cápsulas.
No mesmo dia, a Polícia Militar realizou outras duas apreensões de droga. As operações, em conjunto, foram desencadeadas em cumprimento a quatro mandados de busca e apreensão nos bairros Vila Haro e São Carlos. De acordo com a PM, os mandados foram cumpridos nas residências dos adolescentes detidos recentemente pela PM– quando duas quadrilhas compostas por jovens entre 15 e 17 anos foram apreendidas.
Na casa de um dos adolescentes, os policiais encontraram uma porção de maconha e outra de cocaína. Já em outra residência, foi apreendida uma porção um pouco maior de cocaína. Três adolescentes foram detidos novamente e encaminhados à Polícia Civil. A princípio, os adolescentes teriam sido recrutados tanto para praticar roubos, como para montar ponto de venda de drogas no Município.
(Com colaboração de Renata Prandini)