Uma execução cruel, na frente de vizinhos e pessoas que passam pela rua, com disparos em sequência e sem chance de defesa. O assassinato de Gabriel Jordão da Silva, de 23 anos, ocorrido em 1º de fevereiro de 2023, no bairro Moreninha II, em Campo Grande (MS), foi mais do que um crime — foi um recado, um aviso e uma forma de manter o poder nas mãos de quem manda no tráfico.
Essa foi a conclusão do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que obteve na última semana a condenação de dois envolvidos no homicídio: Wellington da Silva Barbosa, conhecido como “Tantan”, e Ryan Vinicius Alves da Silva, apelidado apenas de “Amarelinho.
Juntos, os dois foram sentenciados a 48 anos de prisão por homicídio qualificado. Um terceiro envolvido nunca foi identificado.
Mas para entender como os réus chegaram até o banco dos réus e, mais tarde, à condenação, é preciso voltar no tempo — e descer fundo na realidade das Moreninhas.
🔫 A execução de Gabriel
Gabriel Jordão foi morto com tiros à queima-roupa, após uma tentativa desesperada de escapar dos assassinos. Ele correu por metros, tentou pular um muro e se refugiar em uma residência próxima, mas foi alcançado e baleado. A investigação apontou que ele chegou a esboçar reação com uma arma de fogo, mas não teve tempo de revidar.
Moradores ouviram mais de dez disparos. A rua Baguari, endereço do crime, virou palco de pânico. A cena foi registrada por testemunhas, que depois ajudariam a reconstruir a trajetória dos autores.
O MPMS foi categórico: o homicídio foi motivado por disputa de pontos de tráfico, com a clara intenção de eliminar Gabriel, que estaria tentando assumir o controle de um setor antes dominado pelos réus.
👥 Quem são os condenados?
Wellington Tantan, hoje com 28 anos, é um nome temido na região. Já havia sido citado em outros casos de violência armada e descrito como uma figura “que impunha medo”. Nas Moreninhas, sua reputação era construída à base de ações violentas e domínio de território.
Ryan, o Yago, 22 anos à época, também já acumulava histórico no mundo do crime. Em uma confissão anterior, chegou a detalhar — com frieza — como funcionavam as execuções nas quais participava. Disse que Gabriel foi “marcado” e que a morte dele era questão de tempo.
Ele foi localizado no dia seguinte ao assassinato por policiais militares e admitiu a participação no crime. Depois de ser capturado a polícia foi levada até onde estavam as armas usadas no crime, uma pistola 9 mm, um revólver 38 e uma pistola 357.
“A gente estava vigiando os passos dele. Quando ele saiu de casa, foi o momento”, teria dito durante um dos depoimentos.
Amarelinho resolvou falar!
Uma mês após sua prisão, a família de Ryan procurou a polícia informando que o “Amarelinho” resolveu contar o que sabia.
Já indiciado, no dia 17 de março de 2023, disse que ficou quieto por não saber quem era os profissionais da primeira oitiva, que teve medo e finalizou dizendo; “Eu estou preso, nasm minha família não”.
Disposto a não assumir sozinho a “bronca”, Ryan refez a cronologia do atentado contra Gabriel Jordão Silva, em depoimento ao delegado responsável pelo inquérito, José Roberto de Oliveira Junior.
Na denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público destacou que ambos agiram por motivo torpe, com evidente intenção de eliminar rivais e usando meios que colocaram a coletividade em risco, já que os disparos foram feitos em via pública.
📄 A sentença
O julgamento foi conduzido na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, presidido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos. A promotora de Justiça Gabriela Rabelo Vasconcelos atuou na acusação, e o Conselho de Sentença acolheu todas as teses apresentadas pelo MPMS.
A pena de Wellington (Tantan) foi fixada em 29 anos e 2 meses de prisão. Já Ryan (Yago) recebeu 19 anos, 9 meses e 15 dias. Ambos iniciarão o cumprimento da pena em regime fechado, sem direito a responder em liberdade.
O processo também aponta que um terceiro executor nunca foi identificado. Apesar dos esforços policiais, ele segue foragido e com sua identidade preservada pelas sombras da periferia.
⚖ Justiça seletiva?
O caso de Gabriel foi um dos poucos, entre centenas de homicídios em bairros periféricos, que chegou ao desfecho com condenação.
Fica a dúvida sobre o que move a celeridade ou não de alguns casos, tendo em vista que casos de vítimas da mesma faixa etária e situação social ainda esperam que pelo menos verem processos judiciais.
Nesse caso, a pressão de familiares, a mobilização comunitária e a prontidão da investigação policial deram a base para a responsabilização dos autores.
🧩 O retrato de um bairro sitiado
As Moreninhas não são apenas um bairro da periferia sul de Campo Grande. É um microcosmo de um Brasil esquecido, onde a lei oficial disputa espaço com regras paralelas impostas por facções, bocas e sentenças executadas à bala.
Gabriel não foi a primeira vítima. Nem será a última. Mas sua morte, transformada em julgamento, condenação e manchete, lança luz sobre um sistema onde muitas vezes só há punição quando a tragédia já se cumpriu.
E ainda assim, a justiça — quando vem — parece ser exceção.
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