Veículos de Comunicação

Oportunidade

Aparelho dentário é vice-campeão de denúncias no Conselho de Odontologia

A correção dos dentes fica mais difícil

Quando tinha sete anos, Bruna Arkalji começou um tratamento ortodôntico. Ficou com o sorriso alinhado e teve alta. Mas foi só tirar o aparelho que os dentes voltaram a entortar. Procurou outro ortodontista, a história se repetiu. E de novo.

"Passei por três dentistas e, ao todo, usei aparelho por quase 18 anos, de todos os tipos: fixo, removível, estético", conta a empresária, hoje com 30 anos. Para corrigir o sorriso e se livrar de dores na mandíbula, ela recorreu a um cirurgião, que lhe indicou mais um especialista. Bruna só conseguiu solucionar a questão com o novo tratamento ortodôntico, dessa vez combinado à cirurgia.

A história de Bruna é desagradável, e cada vez mais comum. "Está aumentando tremendamente o número de pacientes que se submetem a tratamento ortodôntico e não obtêm o resultado desejado", diz o ortodontista Kurt Faltin Júnior, membro executivo da World Federation of Orthodontists. Ele afirma que 30% de seus pacientes, hoje, são pessoas que já se submeteram ao uso de aparelho nos dentes e não ficaram satisfeitas.

Faltin diz que os pedidos de retratamento ortodôntico aumentaram muito nos últimos cinco anos. "A maior queixa é a questão estética, mas há casos em que a pessoa nem consegue mastigar direito", diz. A correção dos dentes fica mais difícil, depois de já ter sido feito um tratamento errado.

No Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), as denúncias de erros com tratamentos ortodônticos só perdem para os problemas com implantes, segundo o conselheiro Marco Antonio Rocco. Ele ressalva, porém, que fatores como mudanças fisiológicas e envelhecimento podem obrigar a pessoa a repetir um tratamento, mesmo que tudo tenha sido feito corretamente na primeira vez.

Proliferação de cursos

Para o presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (Abor), Ronaldo da Veiga Jardim, grande parte dos problemas é decorrência da má formação profissional. Segundo ele, há uma proliferação de cursos de ortodontia, mas a maioria tem carga horária insuficiente e não oferece treinamento adequado. "Nos Estados Unidos há atualmente 65 cursos de especialização em ortodontia, no Brasil são mais de 500, sendo que apenas 22 têm mais de 2.000 horas-aula", compara.

A World Federation of Orthodontists recomenda 3.000 horas de curso. No Brasil, uma resolução do Ministério da Educação exige apenas 360 horas de aula para a especialização. "Além de não ter a carga horária necessária, muitos dos cursos aqui não oferecem programa completo, e falta ainda o atendimento clínico necessário para o profissional adquirir os conhecimentos básicos", afirma Faltin.