Dois fatores colocaram autoridades de Três Lagoas em estado de alerta, nos últimos dias, com relação à saúde pública. Um deles é o aumento da população de capivaras na Lagoa Maior – principal cartão postal da cidade. O outro é o risco que isto representa pela possibilidade de transmissão de uma doença que mata três entre cada 10 pessoas contaminadas, no país.
Os animais que há vários anos fazem parte do cenário composto pela lagoa, gramado e árvores são, também, um risco porque podem transmitir ao homem a febre maculosa – doença apontada como causa da morte de do menino Thales Martins Cruz, de 10 anos, no mês de agosto, em Belo Horizonte (MG) – por meio do carrapato estrela.
Apesar da aparente distância do caso, semelhanças de cenário puseram em alerta um ambientalista radical, o secretário municipal de Meio Ambiente e o Ministério Público. A contaminação da criança ocorreu durante passeio no Lago da Pampulha, cartão postal da capital de Minas Gerais, que tem 17 quilômetros de diâmetro e é frequentada por milhares de pessoas principalmente nos finais de semana. Lá, segundo números atualizados pela prefeitura local, havia 90 capivaras no mês passado. Destas, 48 foram examinadas após a morte do menino e 20 estavam contaminadas pela bactéria Rickettisia rickettsii, causadora da febre.
A Lagoa Maior possui menos de três quilômetros de diâmetro e a população de capivaras é superior a 150 animais – 250 na estimativa do promotor Antônio Carlos de Oliveira, autor de uma ação civil pública que pede à Justiça determinação de que os animais sejam levados para outro local, incluindo os dois jacarés.
“Pode parecer que não há riscos, mas as pessoas que frequentam a Lagoa Maior correm o mesmo risco que aquelas que vão à Pampulha”, disse o promotor. Ele, Manoel Pimenta Queiroz, da Associação Amigos da Lagoa, e o secretário Jurandir “Nuna” Viana têm vários pontos de concordância, embora a causa siga sem uma solução há 10 meses, desde que a ação foi ingressada na Justiça. O juiz da 1ª Vara Criminal de Três Lagoas, Rodrigo Pedrini Marcos, negou liminar pedida pelo promotor para mudança dos bichos para o Parque do Pombo, que pertence à prefeitura da cidade, e que seria um habitat ideal.
“Não vejo por quê a Justiça não olha o meio ambiente inteiro”, parafraseou Antônio Carlos sobre a demora de uma sentença na ação.
“O perigo existe e estamos preocupados”, admite Nuna Viana. “Alguém tem que ‘acordar’ e fazer algo urgentemente para que não tenhamos que lamentar uma morte”, radicaliza Pimenta.
“Meu medo é instalar pânico na população”, alivia Nuna Viana. A intenção do secretário é “usar dados técnicos comprovados” e explicar aos moradores os motivos do controle populacional de capivaras na Lagoa Maior. “Quem sabe umas 30 possam ficar por lá”, disse.
Uma semelhança citada pelos três é: pessoas jogam futebol, fazem caminhadas e os tradicionais pique niques no gramado, perto de capivaras. “Qualquer enquete que se faça vai apontar que elas [as pessoas] não querem a retirada dos animais, como se não houvesse nenhum risco”, cita Antônio Carlos.