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CEMPRE | IBGE | 2023

Desigualdade de salários entre homens e mulheres cresce em Mato Grosso do Sul

Cempre 2023 aponta que quem tem nível superior ganha quase três vezes mais e que mulheres seguem recebendo menos que homens

Mulher e homem lado a lado em ambiente de escritório, olhando para gráficos em uma mesa, simbolizando a desigualdade salarial entre gêneros e níveis de escolaridade em Mato Grosso do Sul.
Estudo do Cempre 2023 mostra diferenças salariais significativas em Mato Grosso do Sul entre homens e mulheres e entre trabalhadores com e sem nível superior. Foto: Gerada por IA | Adriano Hany

As estatísticas do Cempre 2023, que colocam Mato Grosso do Sul entre os estados com melhor remuneração, também escancaram que a desigualdade salarial ainda representa um desafio no mercado de trabalho formal.

Os dados do IBGE mostram diferenças expressivas. Isso ocorre tanto entre trabalhadores com e sem nível superior quanto entre homens e mulheres. Isso acontece mesmo em um cenário de expansão dos empregos e da massa salarial.

De acordo com o levantamento, 76,1% do pessoal ocupado assalariado em 2023 não tinham nível superior. Em contraste, 23,9% possuíam diploma universitário, proporção praticamente estável em relação a 2022.

A remuneração média, porém, continua distante. Quem não concluiu o ensino superior recebeu, em média, R$ 2.443,31. Por outro lado, os trabalhadores com formação superior ganharam R$ 7.079,03. Na prática, o grupo sem diploma ficou com apenas 34,5% do salário pago a quem possui nível superior. Isso consolida um abismo que se mantém ano a ano.

Quando a comparação passa para salários mínimos, o quadro se repete e ganha mais clareza. Em 2023, o pessoal sem nível superior recebeu, em média, o equivalente a 1,9 salário mínimo, enquanto quem tem nível superior alcançou 5,4 salários mínimos. Um ano antes, esses valores eram de 1,8 e 5,4, respectivamente.

Assim, apesar de uma leve melhora para os trabalhadores com menor escolaridade, a distância entre os dois grupos continua elevada. Além disso, segue estruturando a desigualdade salarial no estado.

Escolaridade e Setor de Atuação

As atividades com maior participação de profissionais com nível superior concentram-se em Educação e em Administração pública, defesa e seguridade social. Na primeira, 69,4% dos assalariados têm diploma universitário; na segunda, essa proporção chega a 49,6%.

Já entre os trabalhadores sem nível superior, a mão de obra se distribui principalmente no Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas, que absorve 24,46% dessa força de trabalho. Ela é seguida pela própria Administração pública, defesa e seguridade social (13,92%) e pela Indústria de transformação (13,29%).

Dessa forma, o cruzamento entre escolaridade e setor de atuação reforça perfis bem distintos no mercado.

Desigualdade Salarial por Gênero

A desigualdade salarial também aparece com nitidez nas diferenças entre homens e mulheres. Em Mato Grosso do Sul, a distância entre os rendimentos aumentou de 4,3% em 2022 para 6,2% em 2023. Isso ocorre sempre em favor dos trabalhadores do sexo masculino.

Enquanto eles receberam remuneração média de R$ 3.693,73, elas ganharam R$ 3.476,26. Em termos relativos, as mulheres receberam, em média, o equivalente a 94,1% do salário médio dos homens. Este fato amplia a preocupação com a igualdade de gênero.

Na quantidade de pessoas ocupadas, 52,7% eram homens e 47,3% mulheres em 2023, indicador que revela estabilidade na participação feminina em relação ao ano anterior. A distribuição por setores, porém, evidencia perfis ocupacionais distintos.

Entre os homens, a presença se destaca em atividades como Construção. Nela, eles correspondem a 88,8% da força de trabalho, além das Indústrias extrativas (84,9%) e de Eletricidade e gás (83,4%).

As mulheres, por sua vez, concentram-se em Saúde humana e serviços sociais. Elas também estão em Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, onde somam 70,7% dos assalariados. Além disso, no setor de Educação, representam 67,9% dos trabalhadores.

Com isso, o recorte de gênero também se associa à segmentação setorial.

Recorte por Natureza Jurídica

O recorte por natureza jurídica reforça o quadro de desigualdade, embora traga nuances importantes.

Nos órgãos da administração pública, responsáveis pelos salários médios mais altos do estado, os homens recebem R$ 7.236,04. Por outro lado, as mulheres recebem R$ 5.328,35; o rendimento feminino representa 73,6% do masculino.

Nas entidades empresariais, os valores são de R$ 2.749,30 para eles e R$ 2.105,29 para elas, o que equivale a 76,6%. Já nas entidades sem fins lucrativos, a situação se inverte. Os homens recebem, em média, R$ 2.832,73, e as mulheres, R$ 3.027,66, única categoria em que a média salarial feminina supera a masculina.

Também nas entidades sem fins lucrativos surge a maior diferença de remuneração por escolaridade. Nelas, os trabalhadores sem nível superior recebem R$ 1.940,69, apenas 35,4% do que ganham os graduados, cujo salário médio é de R$ 7.079,03.

Nas entidades empresariais, essa distância diminui um pouco. Os não graduados recebem R$ 2.268,62, o equivalente a 48,7% dos R$ 4.656,51 pagos a quem tem ensino superior.

Em conjunto, esses dados mostram que, mesmo em um estado com bons indicadores de remuneração, enfrentar a desigualdade salarial por gênero e escolaridade permanece como ponto central para um desenvolvimento mais inclusivo.