O náufrago de El Salvador, que garante ter passado mais de um ano à deriva e que foi encontrado na semana passada em um remoto atol das Ilhas Marshall, falou hoje com sua família, segundo fontes do hospital em que foi internado.
Oportunidade
Náufrago telefona das Ilhas Marshall para sua família
José Alvarenga "falou com sua mãe e seu pai esta manhã e já recebeu alta do hospital" disse à agência Efe Ron Mendoza, um dos médicos do Hospital de Majuro, a capital das Ilhas Marshall, ao explicar que o único problema do paciente são as enzimas do fígado que estão em nível elevado, o que é relacionado à inanição.
Alvarenga deve ter alta hoje e será levado para um hotel para "ficar tranquilo" à espera de sua repatriação, comentou a fonte do hospital.
Fontes de Imigração informaram que funcionários da Embaixada do México nas Filipinas devem chegar amanhã ao país para coordenar a viagem.
Alvarenga, que inicialmente foi tido como mexicano, é de El Salvador e morava na Côte D"Azur, no Estado mexicano de Chiapas, de acordo com a Secretaria de Relações Exteriores do México.
Esperança
O pescador declarou que sua profunda fé religiosa o ajudou durante seu percurso de 12,5 mil quilômetros entre o México e um atol (Ebon) ao sul das Ilhas Marshall, e descreveu como se viu obrigado a lançar ao mar o cadáver do companheiro adolescente com quem havia saído para pescar, que morreu de inanição.
"Não queria morrer de fome, nem de sede, tinha medo", declarou à AFP Alvarenga mediante um intérprete de espanhol no hospital de Majuro, capital do arquipélago, onde se recupera depois de ter sido encontrado na quinta-feira por dois moradores locais, quando estava completamente desorientado em sua chegada ao remoto atol.
"Ocorreram dois momentos em que pensei em me matar, quando não havia comida nem água pegava a faca, mas tinha medo de fazer isso", acrescentou, levantando um braço para, apontando ao céu, dizer que sobreviveu graças "a Deus, a minha fé em Deus (…) Não pensava que ia morrer, mas que ia sair!".
Alvarenga também mencionou que durante seu périplo ansiava por seus pratos favoritos. Seu sonho por mais de um ano foi "comer uma tortilha, frango, ovos, beber muita água", disse.
À deriva
Segundo o pescador, os dois saíram de Puerto Paredón, no México, no dia 21 de dezembro de 2012, a bordo da lancha "Camaronera de la costa", com destino a El Salvador para passar o Natal, mas foram surpreendidos por um vento norte muito forte.
O duo partiu em uma embarcação de sete metros para uma viagem que se torceu por culpa de uma tempestade que os afastou do litoral e os deixou à deriva no Pacífico.
Seu barco de sete metros foi arrastado no dia 30 de janeiro de 2014 até um recife perto de Ebon, um remoto atol das Ilhas Marshall, onde os aldeões o encontraram e tiveram problemas para se comunicar com ele, pois fala somente o espanhol.
As autoridades das Ilhas Marshall enviaram um navio até Ebon para levá-lo a Majuro.
Alvarenga contou que conseguiu sobreviver por tantos meses bebendo sangue de tartaruga, quando faltava água da chuva, e comendo quelônios, aves e peixes que capturava com as próprias mãos.