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Ponte deve ser liberada sem estudo de impacto ambiental

A ponte Mário Covas, que liga Brasilândia (MS) a Paulicéia (SP) está pronta desde dezembro do ano passado

Com a pavimentação do trecho e sem os estudos ambientais essa cena poderá se tornar comum -
Com a pavimentação do trecho e sem os estudos ambientais essa cena poderá se tornar comum -

A ponte Mário Covas, que liga os municípios de Brasilândia (MS) e Paulicéia (SP), deve ser liberada na próxima semana. A estrada que dá acesso à ponte corta a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cisalpina. A grande preocupação com a liberação do tráfego são as diversas espécies que vivem nas matas, entre os varjões dos rios Verde e Paraná.

A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) requereu no dia 31 de agosto a Licença de Operação da ponte sobre o Rio Paraná. Em nota informou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovavies (Ibama) que os estudos de impacto não foram solicitados e que a mesma não realizou o estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA).

Visando a preservação ambiental e a segurança de motoristas e das diversas espécies que fazem parte da reserva, integrantes da Econg, Apoena e Cisalpina preparam uma representação para ser encaminhada ao Ministério Público Federal, formalizando um pedido de estudo dos impactos ambientais antes da liberação do tráfego. O documento deve ser encaminhado no começo da próxima semana.

Juntas Econg, Apoena e Cisalpina defendem a colocação de placas educativas de preservação ambiental e sinalização indicando velocidade máxima.

Segundo o presidente da Apoena, Djalma Weffort, como medida punitiva a sugestão é que sejam implantados radares em toda a extensão da reserva. “A criação da reserva foi uma luta e vitória da sociedade civil. Como, depois de vencer o desafio vamos abandonar a reserva e deixar de lado a proteção? Não podemos. Depois de tanto esforço não vamos permitir  que uma obra ameace e cause perigo tanto para a fauna, quanto para os motoristas. Não somos contra a ponte, mas esperamos um estudo para que os impactos sejam amenizados”, explicou.

De acordo com o presidente do Instituto Cisalpina, Carlos Alberto dos Santos Dutra, a rodovia que corta a reserva foi federalizada, em julho de 2008, pelo Ministério dos Transportes, que a incorporou os trechos das rodovias estaduais MS-395 e MS-040 à BR-158. “Da área urbana até a cabeceira da ponte são 20 quilômetros no interior da reserva. Nesse trecho, que está sendo pavimentado, a velocidade deve ser limitada para evitar atropelamento de animais. Mas se o trajeto for liberado sem o estudo, a carnificina será grande, pois eles [os animais] estão acostumados a deitar na pista durante a noite.

Com o movimento durante o dia, o impacto vai ser imenso. Isso sem contar na pesca predatória”, relata.

O local se transformou em uma espécie de santuário ecológico, onde vivem antas, lobos-guará, tamanduás-bandeira, jacarés-do-papo-amarelo, cobras sucuri, onças-parda, cervos-do-pantanal, capivaras, queixadas, cachorros-do-mato e entre outras.

No dia 31 de agosto, aproximadamente 1,5 mil pessoas participaram da manifestação pedindo pela liberação da ponte. Apesar de a estrutura estar pronta desde dezembro do ano passado, alguns atrasos na construção do anel viário, e trechos que não foram asfaltados emperram a liberação.

FLUXO

Outra preocupação com a proximidade da inauguração é a segurança dos motoristas e da fauna silvestre. O fluxo de veículos deve aumentar muito, principalmente pelo complexo industrial, já que o caminho é utilizado por empresas como Fibria e Internacional Paper.

Para o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Três Lagoas, José Ferreira Torres, a sinalização especial é extremamente importante tanto para motoristas quanto para a preservação. “As placas de sinalização serão colocadas. Avisos como não jogue lixo, área de reserva ambiental, travessia de animais serão instaladas assim que a pavimentação for concluída”.

Placas avisando sobre o limite de velocidade de cada trecho deveram complementar a segurança “As pessoas sabem que é uma reserva. Tem que ter consciência”, enfatiza.

A RPPN Cisalpina possui 6.261 hectares e protege uma área total de 22.886 hectares de varjões de rica diversidade e ainda poucos conhecidos da ciência. A área foi desapropriada para formação do lago da usina hidrelétrica Engº Sérgio Motta (Porto Primavera) que, depois de cercada e protegida.